
No dia onze deste mês, passaram quarenta anos sobre um dos acontecimentos mais decisivos e significativos da história social e política do Médio Oriente.
Por António José da Silva
Referimo-nos à revolução que transformou o antigo reino da Pérsia na actual República Islâmica do Irão, nome pelo qual passou a ser exclusivamente referenciado desde então.
Nesse dia onze de Fevereiro de 1979, uma multidão imensa encheu as ruas e praças de Teerão para receber um imã, de nome Khomeini, que chegava de Paris, onde fizera uma paragem no seu regresso de um exílio forçado. Primeiro no Iraque e depois em França
Praticamente desconhecido até então para o mundo ocidental, aquele líder religioso muçulmano depressa se tornou uma figura absolutamente preponderante e incontornável na vida social, política e religiosa do seu país e de toda a região.
E o mais surpreendente, é que, â primeira vista, Khomeini não possuía muitas das características que, pelo menos numa perspectiva ocidental, se procuram habitualmente nos grandes líderes. Nem a sua imagem física nem o seu grau de empatia fariam prever que ele pudesse vir a tornar-se num líder carismático.
Entre os motivos que podem explicar o seu êxito estão certamente os muitos erros cometidos pelo então xá Reza Palevi, no seu projecto de modernização do país, um projecto claramente oposto à tradição cultural e religiosa do Irão. Pior ainda, o imperador teve mesmo de recorrer à força para o implementar e para calar a voz de quantos se opunham a uma tal mudança ou, pelo menos, aos métodos utilizados para a concretizar.
O Irão de Reza Palevi tornou-se pois um estado policial e a oposição ao seu regime fez de um aiatola desconhecido e exilado um autêntico Messias. Basta recordar a multitudinária recepção que os iranianos lhe prestaram há quarenta anos, no seu regresso do exílio. Talvez nem mesmo os mais acérrimos adversários do imperador sonhassem que o velho aiatola levasse tão longe a revolução islâmica que fez questão de anunciar e de levar à prática.
Nestes quarenta anos, a liderança política do Irão sempre esteve nas mãos do clero, se exceptuarmos os oito em que a presidência do país foi exercida por um leigo, Mahmud Ahmadinejad, de seu nome.
Mas deste leigo bem se pode dizer que foi ainda mais longe do que os imãs no apego aos grandes princípios da política externa do país: o ódio a Israel e aos Estados Unidos e a obsessão de atingir o estatuto de potência nuclear. Uma obsessão que tem resistido a todas as sanções e ameaças.