Ciências naturais e a fé cristã (16)

Foto: JLC

Notámos anteriormente que há uma distinção, entre, por um lado, a consciência (algo análogo ao que descrevi ser o “espírito” humano) e o cérebro e, por outro lado, o corpo e a matéria.

Por Alexandre Freire Duarte

Uma distinção que permite dizer-se, de modo sintético e por exemplo, que a consciência opera, pelo cérebro (conquanto o mesmo seja saudável), um corpo que, neste Universo em que vivemos, possui um sustentáculo material para (quando este tem saúde) operar as suas relações.

Ora assim sendo, não é apenas a fé cristã que tem diante de si a certeza de que o fi m da vida biológica do suporte material do corpo não implica o fi m da pessoa. As próprias ciências naturais têm abertas a admissão da grande probabilidade de que isso também venha a ser uma realidade.

De facto, já se está a caminhar para uma admissão da possibilidade de se conseguir “descarregar” memórias e, inclusive, “mentes” informáticas inteligentes em outras formas materiais que sobrevivam a suportes prévios (o que não quer dizer que as mentes sejam meros computadores materiais mais elaborados, mas que estoutros poderão vir a sustentar mentes).

A fé cristã assevera que a sobrevivência da pessoa é garantida por um Deus que, sendo Amor, não deixará que ninguém que O tenha podido conhecer e amar pereça aquando do momento em que ocorrer a sua morte biológica. Deus pode garantir que, após tal morte, continuaremos a ter uma relação com Ele.

Mais: Ele disse-nos que o quer fazer e que o fará, sendo que a própria ressurreição (da natureza humana) de Jesus é a certeza disso, dependendo em muito de nós a qualidade de tal relação. Mas como será tal existência nova em Deus? Pouco sabemos sobre isso, contudo algo podemos dizer.

Desde logo, ela não será totalmente igual à que existe neste presente Universo, mas será uma continuação desta enquanto transformada em tons de amorização, pois, como já referi, em Deus só “entra” o que em cada um de nós for amor ou compatível com este. Pode mesmo conceber-se que o corpo, à semelhança da matéria do corpo glorioso do Senhor ressuscitado (a qual impedia o Seu reconhecimento imediato), não terá a necessidade de ter um suporte material igual ao actual.

Dito isto, e conforme sucederá com as demais dimensões do ser humano, tal corpo será inseparável daquilo que tal suporte nele conformou (eis, por sinal e até se desejar ignorar que se está a falar de uma existência para “além” deste Universo, um motivo pelo qual a reencarnação neste último é, pela descontinuidade que supõe, irreconciliável com a fé cristã e até com a própria razão).

Se assim é, não perderemos as nossas faculdades espirituais (por exemplo a memória) nem os sentidos, embora não saibamos como actuarão. Mas, sobretudo e mais importante, amaremos mais e melhor do que nunca.