
No passado dia 14 de fevereiro, o Papa Francisco fez um importante discurso aos participantes da Assembleia Plenária da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
A parte inicial da intervenção pontifícia teve tom comemorativo. O II Concílio do vaticano aprovou e foi promulgada a Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium (4/12/1963). Aí se preconizava uma reforma geral do Rito Romano e se estabeleciam os critérios dessa «instauração». Coube ao Papa de então – São Paulo VI – dar cumprimento a esse desígnio, criando os organismos adequados para concretizar a reformulação tida como necessária e/ou conveniente das preces e dos ritos da Igreja em oração. O trabalho começou a dar frutos significativos em 1969. Pode, por isso, dizer-se que estamos no ano jubilar da concretização efetiva da reforma litúrgica, essa reforma que o Papa Francisco já declarou irreversível.
No discurso que estamos a reler, o Santo padre destacou algumas efemérides: – Em 8 de maio de 1969 foi instituída a «então Congregatio pro Cultu Divino, a fim de dar forma à renovação querida pelo II Concílio do Vaticano». A antiga Congregação dos Ritos, que marcara um período na história da Liturgia do rito romano caracterizada pelo chamado “rubricismo”, não era o organismo adequado para promover a receção da novidade conciliar e, por isso, Paulo VI quis uma instituição realmente nova. Diz Francisco: «A tradição orante da Igreja precisava de expressões renovadas, sem perder nada da sua milenária riqueza, redescobrindo, aliás, os tesouros das origens». «Tratava-se de publicar os livros litúrgicos segundo os critérios e as decisões dos Padres Conciliares, afim de favorecer, no Povo de Deus, a participação “ativa, consciente e piedosa” nos mistérios de Cristo (cf. Const. Sacrosanctum Concilium, 48)». – No próprio dia em que Francisco discursava, ocorria o cinquentenário da promulgação do Motu Proprio Mysterii paschalis sobre o Calendário Romano e o Ano Litúrgico (14 de fevereiro de 1969).
Importa ter presente que o Ano Litúrgico fornece o quadro celebrativo das celebrações mais importantes – pela sua constância e repetição no ritmo do tempo – da vida litúrgica: a Eucaristia e a Liturgia das Horas. O Missal e o Ofício Divino (até então chamado “Breviário”) não se poderiam publicar sem ter primeiro revisto as normas do Ano Litúrgico e do Calendário. – No mesmo ano de 1969 ocorreu o momento culminante da reforma litúrgica, pela sua importância intrínseca: a publicação da Constituição Apostólica Missale Romanum (3 de abril de 1969) com a qual Paulo VI promulgava o Missal Romano. Seria preciso esperar pelo ano 1970 para que o Missal Romano conhecesse a sua primeira «edição típica».
Mas já em 1969 foi publicado o novo Ordinário da Missa com as novas orações eucarísticas e novos prefácios. Anunciado pelo Papa ao Consistório Cardinalício de 28 de abril e apresentado à imprensa em 2 de maio, ostenta a data significativa de Quinta-Feira Santa desse ano (3 de abril de 1969). – No seu discurso, Francisco refere algumas partes do Ritual Romano com primeira edição típica em 1969: Rituais do Batismo das Crianças (15/05/1969), Matrimónio (19/03/1969) e Exéquias (15/08/1969). A importância pastoral destes ordines é evidente.
Outros marcos desse ano memorável justificariam menção. Entre todos, destacamos a publicação do novo Ordo lectionum Missae (já destacado nesta página), em 25 de Maio. Nele se fornece o quadro regulador da Liturgia da Palavra da Missa e a grande programação da leitura litúrgica da Palavra de Deus ao longo do ano litúrgico e do calendário. Sem essa reforma fundamental não teria sido possível a publicação dos novos Lecionários, tão importantes para que a Igreja se possa alimentar e renovar à Mesa da Palavra de Deus.
Estamos, portanto, em ano jubilar. Demos graças a Deus por este grande dom que concedeu à Igreja do nosso tempo: a reforma litúrgica. Mas tomemos bem a sério a recomendação e advertência de Francisco: «não basta mudar os livros litúrgicos para melhorar a qualidade da liturgia. Fazer só isso seria um engano. Para que a vida seja verdadeiramente um louvor agradável a Deus, é preciso, com efeito, mudar o coração».