Tem início nesta quinta-feira dia 21 de fevereiro um Encontro no Vaticano que o Papa Francisco convocou para debater o tema da “proteção dos menores na Igreja”. Decorre até domingo dia 24.
Por Rui Saraiva
Estarão presentes os presidentes das várias conferências episcopais, os chefes das Igrejas católicas orientais, os superiores da Secretaria de Estado do Vaticano, os prefeitos das várias congregações e dicastérios da Cúria Romana e os representantes dos institutos religiosos. O Santo Padre estará presente em todas as sessões deste encontro que decorrerá na Sala Nova do Sínodo.
Pela credibilidade da Igreja
O problema do abuso de menores na Igreja envolvendo sacerdotes e o encobrimento feito por alguns bispos sobre essa realidade está a minar a credibilidade da Igreja. O Papa Francisco referiu-se de forma clara e incisiva a este tema, que tanto tem atormentado a Igreja, no passado encontro de saudações natalícias em dezembro de 2018 no Vaticano com a Cúria Romana, tendo afirmado que é fundamental erradicar da Igreja Católica aqueles que, a coberto da sua consagração a Deus, “abusam dos fracos, valendo-se do seu poder moral e de persuasão”.
“Ministros, que dilaceram o corpo da Igreja, causando escândalos e desacreditando a missão salvífica da Igreja e os sacrifícios de muitos dos seus irmãos” – frisou o Papa.
Francisco afirmou que não haverá lugar na Igreja Católica para situações de pedofilia, para “lobos vorazes”, cujos atos “deformam o rosto da Igreja, minando a sua credibilidade”.
O Santo Padre dirigiu-se diretamente aos membros do clero que abusam de menores, citando palavras de Cristo:
“E a quantos abusam dos menores, gostaria de dizer: convertei-vos, entregai-vos à justiça humana e preparai-vos para a justiça divina, lembrando-vos das palavras de Cristo: «se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar” – afirmou Francisco.
Em 2018 foram motivo de grande preocupação para o Papa situações difíceis como aquela que o Santo Padre viveu com a atitude de encobrimento de bispos do Chile perante denúncias de abusos sexuais.
Fazem parte da comissão organizadora deste evento no Vaticano sobre a proteção dos menores na Igreja, as seguintes personalidades: o cardeal Blase J. Cupich, de Chicago (EUA); o cardeal Oswald Gracias, de Bombaim (Índia); D. Charles Scicluna, arcebispo de Malta e secretário-adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé e o padre Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção de Menores da Universidade Pontifícia Gregoriana.
Oração e escuta
Este encontro inédito no Vaticano vai organizar-se em grupos de trabalho, estando previstos momentos comuns de oração com escuta de testemunhos, uma liturgia penitencial e uma celebração eucarística final.
No primeiro dia deste encontro no Vaticano, os participantes vão refletir, em modo alargado, quais são as responsabilidades pastorais e jurídicas do bispo no que concerne à temática em debate.
No segundo dia a reflexão será sobretudo sobre o concreto dos procedimentos de atuação. Ou seja, a quem é que o bispo, ou o superior de uma ordem, deverá prestar contas das suas ações sobre esta matéria da proteção dos menores. Em debate aspetos relacionados com estruturas e métodos.
Finalmente o terceiro e último dia será dedicado à transparência. Transparência a nível interno, mas também com as autoridades estatais e para com todo o povo de Deus.
Para moderar este Encontro no Vaticano o Papa Francisco convidou o padre Federico Lombardi, sacerdote jesuíta, ex-Diretor de Sala de Imprensa da Santa Sé e que foi durante muitos anos diretor geral da Rádio Vaticano e agora é Presidente do Conselho de Administração da Fundação Ratzinger.
Na apresentação do programa deste Encontro feita pelo padre Hans Zollner da Universidade Pontifícia Gregoriana, na passada terça-feira dia 12 de fevereiro, foi acentuada a necessidade da mudança de comportamentos na Igreja no que diz respeito a esta temática do abuso de menores. O sacerdote jesuíta considera que uma boa ajuda poderá vir da escuta das vítimas de abuso. Uma escuta que permitirá conhecer o concreto do sofrimento das vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero.