
Foi esta a expressão utilizada por alguns observadores da política internacional para designar o resultado das recentes eleições presidenciais que, há dias, tiveram lugar na República de El Salvador.
Por António José da Silva
Trata-se de um pequeno país da América Central com pouco mais de vinte e um mil quilómetros quadrados e cerca de oito milhões de habitantes, um país que nas duas décadas finais do século passado se tornou tristemente conhecido por causa de uma guerra civil que se prolongou por doze anos, e que só em 1980, conheceu o seu término. Nessa altura, já tinha causado dezenas de milhares de mortos, entre os quais um que ficou para a história do país e da Igreja Católica. Falamos de um bispo que foi santo e mártir, Oscar Romero de seu nome, assassinado em Março desse ano.
Foi uma guerra em que, com diferentes ajudas externas, se enfrentaram dois movimentos ideológicos extremistas: um, claramente de índole marxista, a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, e outro de extrema direita, a Aliança Republicana Nacionalista, ou simplesmente ARENA. Conseguida a pacificação do país com a mediação da própria ONU e a transformação da Frente Farabundo Marti em partido político, a República de El Salvador conheceu um novo período da sua história política, marcado não só pela Paz, mas também por algum progresso económico: No entanto, pouco tempo depois, o estado salvadorenho começou a ser corroído pelo vírus da corrupção e, consequentemente, pela desilusão dos cidadãos. E foi neste contexto que o povo foi chamado, há sias, a escolher um novo presidente da República, e bem se pode dizer que essa escolha foi no mínimo surpreendente. Tão surpreendente que bem mereceu a designação de tsunami.
Foi um tsunami, porque varreu completamente o cenário político e partidário que vinha dominando o país desde a guerra civil, a começar logo pela Frente Farabundo Marti a que pertence o ainda presidente, que só será substituído em Junho. E embora a derrota da ARENA não tenha sido tão humilhante, o candidato deste partido da direita ficou a uma distância significativa do vencedor, Nayib Bukele. Trata-se de um publicitário ainda jovem cujo nome indica a sua ascendência árabe e muçulmana. Foi uma primeira surpresa a que se deve juntar o facto de não representar qualquer partido, o que torna ainda mais significativa a sua vitória. Não é pois sem motivo que Bukele faz questão de lembrar que obteve mais votos do que os candidatos os outros dois maiores concorrentes juntos. Um resultado que bem justifica classificação de tsunami político.