O Lar Juvenil dos Carvalhos

Por Lino Maia

Em 1984 foi proposto a estudantes Claretianos passar uns dias na Escola de Artes e Ofícios da Assembleia Distrital do Porto (colónia agrícola), nos Carvalhos. Durante quinze  dias fizeram um pouco de tudo: ajudaram nos trabalhos agrícolas e de limpeza, deram aulas de formação cívica e religiosa, dinamizaram tempos de convívio e entretenimento… Enfim, ali procuraram ajudar a criar um ambiente mais humano e encontraram um espaço para o qual logo que viram que a Igreja deveria estender o seu olhar.

Um pouco mais tarde, em período conturbado, o Vice-governador Civil do Distrito do Porto solicitava a colaboração dos missionários Claretianos para dar um novo rosto àquela “casa de rapazes”. Por escassez de pessoal, a Província dos Missionários não se comprometia diretamente, mas dava autorização para que alguns dos seus membros a orientassem. Os padres José Maia e Marçal Pereira aceitaram o desafio e assumiram a orientação pedagógica de uma casa onde já tinham trabalhado em tempos idos.

Assim começava toda uma nova história e a Escola se convertia  no “Lar Juvenil dos Carvalhos”.

Após vários anos a funcionar naquela modalidade, em Abril de 2001, graças a uma decisão do Capítulo Provincial, os missionários Claretianos decidiram assumir o Lar Juvenil como posição apostólica institucional para o que constituiu a Fundação Claret. A Assembleia Distrital do Porto procedeu à entrega de imóvel, casa e quinta por um período de 50 anos e foi celebrado um acordo de gestão com a Segurança Social. Para responder ao “grito dos mais carenciados e aflitos” e proporcionar melhor crescimento e afirmação de crianças e jovens, a partir dessa altura, esta obra passou a fazer parte das frentes apostólicas da Província.

Entretanto, na encosta do monte, de forte pendente, caraterizado por socalcos e bastante arborizado, era construído um novo e moderno equipamento para acolhimento de crianças e jovens. Com vários sectores para alunos, áreas técnicas e de serviços, uma secção de apoio a atividades de instrução e tempos livres, um espaço de celebração, cultural e de reflexão, instalações desportivas e uma ampla área de lazer para acampamentos e convívios de grupos. Ao mesmo tempo, o velho edifício era preservado para aí estabelecer uma nova e consistente resposta de acolhimento e acompanhamento de refugiados, onde, aliás, já foi recebida uma família síria.

Entre o aplauso, o medo e sempre na esperança, o Lar Juvenil acolhe perto de 30 jovens sendo cada um deles o seu próprio construtor – não único, mas decisivo. Os educadores prometem a si mesmos ser  tão entusiastas acerca do sucesso dos seus educandos como do seu próprio sucesso como educadores, perdoar os erros do passado, olhar para o lado mais bonito das coisas, oferecer um sorriso àqueles a quem se dão, concentrar-se nas realizações positivas do futuro e pensar sempre no melhor, trabalhar para o melhor e esperar só o melhor para que os seus educandos, alguns dos quais com percursos de fragilidade, sejam, hoje e sempre, apaixonados pela vida.

Desta filosofia pedagógica está imbuído um numeroso corpo técnico. Para ela também contribui o Colégio dos Carvalhos, onde estudaram muitos residentes do Lar,  a boa relação com a comunidade local envolvente, que também beneficia de instalações do Lar, e uma persistente interação com jovens, que, no voluntariado aí exercido, experimentam uma melhor cidadania.

Quanto bem é feito no Lar Juvenil dos Carvalhos e como é bem feito!