Apetecia-me parafrasear o Senhor Jesus e aplicar aos profissionais de saúde, especialmente aos médicos, o que Ele dizia a respeito de um militar romano: «Em verdade vos digo que, nem entre os crentes, encontrei tamanha dedicação aos outros!». Sim, é justo aplicar isto à imensa maioria destes profissionais competentes, sensíveis e devotadíssimos. Não obstante, da parte de alguns, há aspetos a corrigir. Vejamos.
Há dias, ouvi o desabafo de alguém que se queixava de, por motivos da greve dos enfermeiros, ter feito uma enorme despesa em transportes e… nada: nem sequer atendida foi. E que já não era a primeira vez que tinha de suportar despesas superiores às suas posses. Por exemplo, um dia, a consulta que deveria ser às nove e meia acabou por se fazer muito perto do meio dia. Resultado: perdeu o comboio e o autocarro que esperava por ele e teve de alugar um táxi que lhe custou quase um terço da sua minguada «reforminha».
Estes casos são exageradamente frequentes. E incompreensíveis. Talvez fruto de uma mentalidade «paternalista» e de «senhor feudal» por parte de alguns que, porventura, acharão que não serão tidos como importantes se não colocarem os doentes na sua total dependência. E que, como tal, podem dar-se ao luxo de chegar às horas que lhes apeteça, interromper as consultas quando quiserem, obedecerem ao seu relógio e não às horas universais.
Esta mentalidade está em vias de desaparecer. Até porque o doente vai tomando consciência dos seus direitos. Sabe que, efetivamente, é ele quem paga o Serviço Nacional de Saúde. Portanto, é ele o dono da empresa e o «senhor doutor» um assalariado. Consequentemente, pode exigir-lhe respeitinho. Mas melhor seria que a mudança não se fizesse exclusivamente devido à reivindicação dos direitos dos doentes, mas em razão dos deveres assumidos pelos profissionais da saúde, pessoal contratado para o exercício de funções devidas à comunidade.
Escreve-se isto no contexto do Dia Mundial do Doente, a parte mais frágil no jogo de forças que é o setor da saúde. Para exigir um serviço de qualidade, assente no respeito absoluto do doente e sua dignidade, em função de quem tudo deve girar. Até porque os profissionais também são doentes reais ou potenciais: mais cedo ou mais tarde, os curadores também necessitarão de cura.
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