
Após a publicação de um dos meus últimos textos desta rubrica, perguntaram-me o motivo de não ter começado a abordagem das questões particulares da relação entre a fé cristã e as ciências naturais pela origem da criação e o começo do Universo.
Por Alexandre Freire Duarte
Pareceu-me uma pergunta pertinente e, como tal, talvez presente em outras pessoas, motivo pelo qual respondo à mesma também aqui. Para o efeito, começo por citar algo que já escrevi nestas páginas: «Deus cria, (…) para a Incarnação, e incarnaSe (…) para unir a Si (…) o que é distinto de Si». Ou seja: a ordem da execução (criação – Incarnação – união) é oposta à sequência da intenção (união – Incarnação – criação).
Assim sendo, para se abarcar melhor o começo, não há senão como olhar em primeiro lugar para a meta, pois é esta que, de algum modo, define o próprio começo. Claro que o contrário também tem o seu quê de verdade, mas não permite uma compreensão tão ampla, tendo sido por isso mesmo que estou a abordar aquelas questões segundo a ordem da intenção. Esclarecimento feito, passarei a tratar, de agora em diante, de um segundo tema concreto da antes mencionada relação: o do fim da vida biológica, analisável pelas ciências naturais, e a Vida após tal fim, afirmada pela fé cristã. Vejamos: será que o que tais ciências afirmam, nega ou permite a admissão da possibilidade de uma tal Vida?
Pois bem, actualmente há, no âmbito das ciências naturais, um grande debate sobre se a consciência individual de uma pessoa é, ou não, meramente uma consequência dos processos mentais do nosso cérebro material. Tal debate tem-se prolongado pois, infelizmente, não tem sido desprovido de preconceitos. Na realidade, a análise ponderada e séria dos dados que se têm avolumado, revela claramente que o cérebro não é senão uma matriz para que consciência opere neste Universo espaço-temporal e, ao mesmo tempo, um meio que permite àquela comunicar com o restante do corpo e, por este, com tal Universo.
Há dois bons exemplos ilustrativos daquilo que acabei de referir. Um é o denominado “efeito placebo”: a convicção consciente de que dado produto (que, na realidade, não é mais do que um elemento neutro) possui dados efeitos, faz com que tais efeitos sejam produzidos pelo organismo. O outro é o dos taxistas de Londres: tendo estes que memorizar todos os nomes e sentidos das ruas desta cidade, para nela poderem exercer o seu ofício, partes do seu cérebro mudam. Ou seja: o cérebro e o corpo humano experimentam transformações plásticas, fruto da acção da consciência inteligente, algo que, em derradeira análise, não seria possível se houvesse uma simples identificação entre o cérebro e a consciência, como se esta fosse uma mera soma de elementos materiais ou energéticos.