Médio Oriente: um cenário sempre perigoso

Nos últimos tempos, o Médio Oriente não tem merecido o lugar destacado que a Comunicação Social lhe vem reservando desde há muito.

Por António José da Silva

É verdade que não faltaram crises a chamar a atenção da opinião pública para o que vai acontecendo noutras regiões do mundo, mas também é certo que os problemas do Médio Oriente, sobretudo aqueles que dizem respeito às relações entre Israel e os países árabes, não conheceram desenvolvimentos particularmente significativos ou ameaçadores.

Vem isto a propósito de notícias que, nos últimos dias, deram conta de pelo menos dois incidentes que vieram lembrar à opinião pública que a situação naquela região continua perigosa. A primeira dessas notícias destacava o lançamento de mísseis e a respectiva guerra de palavras sobre quem teria sido o responsável e o vencedor da mais esta curta batalha: se israelitas, se árabes. É que, de um lado e do outro, as notícias nunca são totalmente credíveis, já que provêm geralmente de fontes ligadas à propaganda, seja esta oficial ou não.

O segundo incidente teve origem em protestos de alguma violência por parte de grupos palestinianos e a resposta musculada das forças israelitas que utilizaram balas de borracha para os reprimir. Imagens a lembrar o tempo das intifadas… Pode assim dizer-se que nada de particularmente importante parece ter mudado ultimamente naquela região do mundo, a não ser aquilo a que podemos chamar o maior empenhamento da Síria no conflito.

Trata-se de um empenhamento que lhe veio conferir uma dimensão política e militar bem mais abrangente e bem mais grave, sobretudo por causa das relações privilegiadas que o regime de Assad mantém com a Rússia de Vladimir Putin.

Com alguma surpresa, o presidente russo não tem levado demasiado longe e sua aliança com Damasco, já que esta não ultrapassou ainda, pelo menos até agora, o nível das promessas ou das ameaças verbais. De qualquer modo, o governo israelita sabe que uma coisa é enfrentar o governo de Damasco e outra, bem diferente, é a de ter como inimigo declarado e assumido a Rússia de Vladimir Putin, o que ainda não aconteceu.

De qualquer modo, é preciso ter em conta que o cenário político em que se desenvolvem os conflitos no Médio Oriente não se resume a Telavive, Damasco, Teerão e Moscovo. Washington também entra na peça, e é certamente por isso que a Rússia não leva mais longe os seus compromissos com a Síria. De qualquer modo, o cenário é sempre perigoso…