
A anunciada realização em Portugal (em Lisboa, claro, onde podia ser?) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi transformada pelos nossos governantes e autarcas, a começar no Presidente, em espetáculo de promoção do país, ou de nova valorização do turismo, ou de reformulação dos espaços degradados, ou expressão do Portugal na moda, ou num evento mediático que vai dar origem à mais emblemáticas iniciativas para engalanarem as pantalhas televisivas ou as capas das revistas. Perdeu-se o essencial do anúncio do encontro e do seu significado. Ninguém valorizou a voz do Papa Francisco, nem sequer do Cardeal Patriarca.
As Jornadas Mundiais da Juventude constituem uma iniciativa pastoral da Igreja Católica, cujas finalidades são claras: valorizar a mensagem cristã como caminho para ao mundo de hoje; mobilizar as dinâmicas juvenis de inspiração cristã (ou outras) em favor do bem comum; e na base indestrutível e mobilizadora de todas essas dinâmicas, propor com vigor a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo como o caminho para um mundo melhor, para um mundo renovado nos ideais do bem comum e do mais profundo ideal humanista.
Como dizia o Papa Francisco em mensagem aos jovens das culturas indígenas reunidos no Panamá, a grande mensagem e o grande projeto deve ser “Assumir as raízes, pois das raízes provém a força que vos fará crescer, florescer e frutificar. Além disso, de afirmar o vosso compromisso de proteger a Casa comum e colaborar para a construção de outro mundo possível, mais equitativo e mais humano”. E acrescenta: “Assumi as vossas raízes, mas não vos limiteis a isto: a partir destas raízes, crescei, florescei, frutificai! Um poeta dizia que «quanto a árvore tem de florido, provém do que tem de enterrado». As raízes! Mas raízes voltadas para o futuro, projetadas para o futuro. Eis o desafio que vos espera hoje!”.
Eis uma linguagem boa para o nosso tempo: associa as forças construtoras do passado, o crescimento pessoal, a dinâmica ecológica, a proteção do equilíbrio humano e social. Uma juventude que dê novas forças à sociedade humana. Uma juventude de raízes abertas ao florescimento e à frutificação. Acaso ouvimos algum dos nossos políticos tão atentos às Jornadas a valorizar, ou sequer a falar, destas dimensões?
(CF)