Com estas palavras desejo rematar as minhas breves e, assim, assaz incompletas reflexões sobre o tema “do fim do Universo e a meta da Criação”.
Por Alexandre Freire Duarte
E desejo terminá-las com o clarificar e vincar de algo que referi no último texto desta rubrica. A saber: que a meta da Criação não é alheia ao que é, e será, o Universo. Acreditando a fé cristã num Criador pessoal inteligente que transcende a Sua Criação, o advir, também pela acção d’Aquele, de seres conscientes capazes, pela sua inteligência e vontade, de apreciarem a bondade, a beleza e a verdade não é o “ponto final” para estes seres.
Tal Criador, que a revelação bíblica patenteou ser Amor e nada mais do que Amor, não descartará tais seres, antes possibilitará – e sendo Amor, será que poderia não fazê-lo? – que os mesmos não desapareçam como poeiras espalhadas ao vento. Eles, e as condições para a sua existência basilar, permanecerão graças à sua união amorosa com Cristo Jesus, o Qual os insere, transfigurados, no próprio Coração de Deus.
O que quer isto dizer e o que é que implica? Por um lado, quer aludir que tais seres – pelo menos nós, os seres humanos da espécie “homo sapiens” – não serão cópias daquilo que são presentemente neste Universo, mas que também não serão totalmente diferentes. Por outro lado, sugere que aqueles serão em Deus-Amor – e inerentemente na Criação transfigurada, na qual Aquele regerá definitiva e plenamente pelo amor – parcialmente em função do que tiverem feito de si, pois num Deus que é Amor só entrará o que for amor ou, então, o que é compaginável com este. Se assim é, aquilo que as criaturas capazes de conhecerem e amarem, particularmente a Deus, fizerem em si, e igualmente no Universo presente até ao fi m cronológico do mesmo, terá consequências para aqueloutra Criação Nova.
O que tiver sido criado e edificado pelo amor, bem como o que tiver sido amado e assim impactado nas memórias daquelas criaturas, durante o tempo da existência do Universo, estará presente em tal Criação, embora transfigurado pela glória divina. Já o que tiver sido descriado e destruído pelo desamor – seja em tais criaturas, seja na corrente Criação – não estará presente naqueloutra Criação, pelo menos do mesmo modo que poderia ter estado. Mais uma vez constatamos que não é somente tudo aquilo que é deveras humano que deve ser valorizado pelo ser humano – e mais ainda por nós, cristãos. Não.
Do mesmo modo, nada do que, no presente Universo, estiver relacionado com o ser humano pode ser alheio a este e ao seu empenho de o humanizar. Absolutamente nada. Se se pode afirmar que é verdade que o Universo existe para o ser humano (poder surgir), não é menos verdade que o ser humano existe para (cuidar com bondade de) tal Universo, e, assim, levá-lo até ao Senhor.