A Venezuela voltou, há poucos dias, a ocupar um lugar destacado em quase todos os noticiários internacionais, isto, por via de mais uma enorme manifestação contra o regime de Nicolas Maduro.
Por António José da Silva
Foi uma manifestação de carácter nacional, absolutamente impressionante e que mereceu, por isso, um grande destaque mediático. Até porque foi acompanhada de uma outra notícia, essa sim verdadeiramente importante: a autoproclamação de um novo presidente da República, embora com carácter interino, Juan Guaidó de seu nome. Tratou-se do mais sério desafio lançado ao regime, desde que a oposição a Maduro se começou a mostrar ao país e ao mundo. Pela primeira vez, essa oposição, quase sempre dividida, tinha um rosto e avançava para um desafio que, embora arriscado, parecia capaz de congregar e dar esperança a uma parte substancial do povo daquele país, um povo que tão castigado tem sido como tem sido ao longo dos últimos anos pela governação do sucessor de Augusto Chavez.
É certo que os enormes sacrifícios por que os venezuelanos vêm passando também se devem a um factor que ultrapassa a simples governação, qualquer governação. Falamos dos preços do petróleo, cuja receita foi, durante anos, a base praticamente exclusiva da economia do país. Mas o facto inegável é que nem Chavez nem Maduro foram capazes de responder minimamente aos desafios de uma política económica sem petróleo caro, amarrados como sempre estiveram aos ditames de uma ideologia populista que lhes serviu, fundamentalmente, para garantir um número de seguidores suficientes para se agarrarem ao poder. Isso, mais a manipulação das consultas populares que o regime foi organizando e, sobretudo, a fidelidade das forças armada onde nasceu a chamada revolução bolivariana É esta fidelidade, prometida mais uma vez há poucos dias, que sustenta o regime e tem tornado inúteis, até agora, todas as manifestações de protesto do povo venezuelano, por maiores que sejam.
A última dessas grandes manifestações teve, no entanto um impacto muito mais forte, a nível interno e externo.
O facto de vários países se terem apressado a reconhecer o novo e autoproclamado presidente, um jovem político que é líder da Assembleia Nacional, tem um peso político que Maduro não pode subestimar, embora alguns desses apoios, como o de Trump ou Bolsonaro possam ter precisamente o efeito contrário.
O pior cenário para o povo venezuelano seria, por certo, o de uma guerra civil, mas esta nem sequer se afigura muito possível, pelo menos enquanto a força militar estiver toda e apenas do lado do regime. Perante este cenário, é caso para perguntar: e agora?