Vimos, no último texto desta rubrica, algo acerca do que as ciências naturais asseveram a respeito do que poderá ser o fim do Universo.
Por Alexandre Freire Duarte
Tais hipóteses devem ser respeitadas pelo seu próprio valor intrínseco e, na medida do possível, levadas em consideração na reflexão crente sobre a meta da Criação. Na realidade, embora esta meta não se confunda com tal fim, não pode haver um discurso crente sobre aquela que decididamente opte por desprezar o que poderá ser a condição final do Universo.
Os sucessivos estádios da Criação – a qual não é senão o Universo quando entendido como um sistema aberto à actuação divina no mesmo – não são totalmente indiferentes para essa meta. É um facto que a meta da Criação já foi, desde uma certa perspectiva, atingida: Jesus Cristo, perfeitamente Deus e perfeitamente Homem, é essa tal meta. Deus cria, por amor, para a Incarnação, e incarna-Se, por amor, para unir a Si, numa perene união de amor, o que é distinto de Si: toda a Criação através da natureza humana assumida por Si e glorificada aquando da Ressurreição Ascenção do Senhor. Mas também é um facto que, pelo que acabei de referir e a partir de uma outra perspectiva, tal Criação é, com todas as suas texturas cronológicas e históricas, indissociável do Senhor glorificado.
Para que tal união de amor pudesse ser lograda, era necessário que, por processos evolutivos pelos quais o próprio Criador pudesse intervir sem ferir as leis cósmicas por Si elegidas, pudessem surgir, no Universo, estados cada vez mais complexos de consciência. Estados estes que capacitassem o eclodir de seres com a capacidade de conhecerem e amarem, notavelmente a Deus, e que, assim, fossem imagem semelhante Sua. Seres que, por seu lado, seriam capazes de se fazerem cada vez mais transparentes a Este e à Sua bondade.
E isto, por um processo de progressiva purificação do seu egoísmo – também derivado do instinto de preservação – e sempre em colaboração crescentemente amorosa com Deus. Quando tal máximo de transparência ocorreu, Deus, que nunca esteve ausente à, e da, Sua Criação, pode unir-Se à mesma num matrimónio indissolúvel em Cristo Jesus. Este matrimónio, tendo a sua vanguarda no ser humano, não tem, não obstante, neste mesmo o seu único “conjugue” criatural. Não. Todo o restante da Criação cósmica está, pelo ser humano, chamado a comungar, de acordo com a sua própria natureza, nessa celebração da participação na natureza e vida do Deus que é Amor.
Eis o que, apontando para uma transformação (e não substituição) da Criação, pode ser entendido como uma expressão da afirmação paulina de que Deus será Deus em toda a realidade (cf. 1Cor. 15,28) e que, sendo o mal auto-destrutor (cf. Ap. 13,10), a bondade do amor será definitiva.