Grande parte dos cidadãos não acredita no cumprimento das promessas feitas pelos políticos em tempo de campanha eleitoral, e a realidade demonstra que, geralmente, este cepticismo é justificado.
Por António José da Silva
Conhecem-se, por certo, algumas excepções a esta regra, mas nem todas essas excepções são honrosas e merecem ser particularmente saudadas. Em alguns casos, o esquecimento de algumas promessas eleitorais seria mesmo bem mais útil à sociedade do que o seu cumprimento. O exemplo mais recente e mais significativo pertence ao actual presidente dos Estados Unidos.
Donald Trump foi acusado, ainda há dias, de ser um mentiroso compulsivo, mas há uma acusação que mão lhe pode ser feita; é a de que tenha mentido aos norte-americanos no que respeita aos seus projectos e propósitos políticos O cumprimento de alguns desses projectos já teve consequências profundamente negativas para o seu país, e mesmo para o mundo.
A América de Trump é hoje um pais muito mais isolado no palco das nações e o seu prestígio vem caindo assustadoramente. É verdade que a sua situação económica está longe de ter acompanhado esta queda moral e política, e é isso que vai sustentando ainda a sua presidência, mas não constituirá uma surpresa se essa situação vier a mudar nos próximos tempos. Nessa altura, os eleitores americanos poderão fazer o que neste mandato se afigura impossível, mesmo para o Congresso e para o Senado: pôr fim às tristes consequências de uma eleição que não ficará para a História pelos melhores motivos.
Olhando agora para a América do Sul, pode dizer-se que Donald Trump tem, neste subcontinente, um discípulo que, pelo menos aparentemente, faz questão de seguir as pisadas do mestre. Trata-se de Jaír Bolsonaro, o novo presidente brasileiro que há dias tomou posse. No discurso com que inaugurou o seu mandato. o novo presidente desse enorme país veio reafirmar os grandes princípios que vão orientar o seu projecto presidencial, e bem se pode afirmar que eles são extremamente fiéis às promessas feitas durante a campanha eleitoral.
De Bolsonaro se pode dizer que ele não traiu os princípios que defendeu nessa campanha. Pertence assim ao reduzido grupo daqueles políticos que, obtida a vitória, não esquece o que sempre defendeu. No entanto, e bem analisadas as consequências de algumas das suas promessas, melhor seria que falhasse no seu cumprimento ou, pelo menos que não as levasse tão a fundo São dois casos em que o maior perigo parece não estar no esquecimento, mas sim na concretização de algumas delas.