
No passado dia 13 de outubro, o Papa Francisco encontrou-se com os seminaristas e seus formadores das dioceses da Lombardia (região do norte de Itália cuja capital é Milão). Francisco respondeu, sem discurso escrito, a várias perguntas.
Estando, então, a decorrer o Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens, um seminarista da Diocese de Crema – acólito instituído, prestes a ser ordenado diácono – formulou a seguinte pergunta: «Vendo tantos jovens que não reconhecem a Eucaristia nem sequer como algo de importante, como poderemos, pelo contrário, fazer-lhes perceber inclusive a sua centralidade culminante e fontal para a vida de cada homem e de cada mulher?».
A resposta do Papa caracterizou-se pela sua já proverbial franqueza: «Nós nisto estamos em crise: não resolvemos o problema da celebração eucarística. Falo em geral. Há exemplos muito válidos mas, em geral, devemos retomar. E isto é um problema mundial».
Francisco valorizou a adoração eucarística: recordou uma experiência ocorrida na véspera, na basílica de S. Pedro; referiu um exemplo de pedagogia bem sucedida; evocou a sua própria experiência pessoal na juventude. E reconheceu: «A adoração é mais fácil para a catequese aos jovens do que a Santa Missa». Só que a adoração fora da Missa só é possível porque há Missa… O ato principal e cimeiro da adoração cristã é, precisamente, a celebração eucarística! E é nela – na sua celebração viva, com participação ativa, consciente e frutuosa – que é necessário, decisivo e urgente introduzir crianças e jovens para que nela depois perseverem e sejam «assíduos», fazendo da Eucaristia o fulcro – cume e fonte – de toda a sua vida humana e cristã.
Sincero no reconhecimento do problema, Francisco é humilde no apontar de pistas por onde poderá passar a solução:
– Alegria: temos de «ajudar os padres» para que este ato «de louvor a Deus, de alegria espiritual» não se pareça com um «velório fúnebre»…
– Superar a «pregação aborrecida»; «uma homilia de oito minutos e bem preparada»; o Papa remete para o que sobre este tema escreveu na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium.
– O amor à Eucaristia deve fomentar-se mediante uma catequese adequada tendo, porém, presente, que a melhor catequese consiste na própria celebração: «é importante fazê-la bem, que seja culto de adoração, de alegria, de comunhão entre nós, comunhão com Cristo»; «celebrar a Eucaristia não é fácil»; «muitas vezes as pessoas dizem: “como celebra bem aquele sacerdote!”»; «a celebração eucarística seja digna, pia, que implique também o afeto das pessoas».
– É uma ilusão pensar que a celebração eucarística se tornará mais atrativa desrespeitando as rubricas e confundindo festa com ruído: «Alguns julgam que não devemos cumprir bem as rubricas: não funciona. Devemos fazer festa e fazer barulho: não funciona. São precisas boas rubricas, é preciso festa, é preciso música, é preciso oração, é preciso silêncio».
– Celebrar a Eucaristia sem precipitação: «tu não podes ir celebrar a Eucaristia à pressa, “tocata e fuga”. Não. O teu coração deve estar ali, na Eucaristia. E isto contagia».
– Onde a Eucaristia é celebrada mais como costume social do que comunitariamente – pensemos em certas Missas de defunto, exequiais ou de sétimo dia – «aproveitar esse costume social para evangelizar, para dizer bem uma palavra, celebrar com beleza».
– Iniciar as crianças no conhecimento da celebração de uma forma pedagógica atrativa. O Papa recorda a Irmã religiosa que o preparou para a Primeira Comunhão explicando as diferentes partes da Missa a partir de um cântico que as crianças aprendiam com gosto e retinham na memória…
Francisco reconhece: «demorei-me um pouco sobre isso mas preocupa-me». Como não nos há de preocupar também a nós? A solução não virá da novidade ou antiguidade dos livros litúrgicos; a crise e a resposta à crise já não reside na «reforma» – cujo tempo já lá vai – mas passa principalmente pela «forma» como celebramos. Formação litúrgica, precisa-se.