As ciências naturais e a fé cristã (11) O fim do Universo e a meta da Criação (I)

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Após quase um ano de interregno, regresso novamente a estas páginas do semanário “Voz Portucalense” com mais alguns textos dedicados à relação existente entre a fé cristã e as ciências naturais.

Por Alexandre Freire Duarte

Se, anteriormente, me dediquei a delinear o cenário mais abrangente em que presentemente se coloca tal relação, tenho a intenção de, a partir de agora, dar a minha atenção a algumas questões mais relevantes que decorrem do entrecruzar dos dados provenientes daquelas ciências e da leitura cristã da realidade.

A primeira de tais questões, que tenciono trazer até vós, tem a ver com, por um lado, o que se diz, a partir das ciências naturais, acerca do fim do Universo, e, por outro lado, o que é crido, fruto do discurso crente cristão, como indo ser meta da Criação.

Pois bem, acerca de tal fim, há uma grande divergência de opiniões que oscilam entre dois extremos que passarei a referir. Num extremo, temos as hipóteses mais pessimistas, que estimam que a inteligência e a consciência são fenómenos passageiros e irrelevantes num Universo que irá tornar-se numa espécie de cemitério cósmico. Seja este extremamente frio, se continuar a expandir-se até consumir toda a energia; seja o mesmo extremamente quente, se comprimir-se espacialmente e condensar tal energia num ponto único (naquilo que poderia dar início a um novo Universo). Ou seja: assevera-se, derrotistica e deprimentemente, uma desagregação total derradeira e no sem-sentido derradeiro de tudo.

No outro extremo estão as conjecturas mais optimistas, que aduzem que, face às leis que regem o próprio Universo, a consciência e a inteligência seriam inevitáveis e que poderão expandir-se. Neste caso defende-se a eventualidade de as consciências inteligentes poderem ser aquilo para que o Universo existe. Mais: e que, afora de como e quando o Universo findar, aquelas poderão, de alguma forma, sobreviver a tal fim. E isto, independentemente do modo concreto da sua relação com o seu suporte material, o qual está sempre em transformação, pelo simples facto de ser presentemente parte inconsútil de um próprio Cosmos em evolução.

Entre estes dois extremos há diversas posições mais ou menos matizadas. Todavia, o facto é que não há forma alguma das ciências naturais conceberem cabalmente os estádios últimos no Universo. E assim é, sobretudo quando a estes estão associadas realidades sobre as quais tais ciências nada ou pouco podem opinar dentro do seu âmbito próprio de competência. Realidades como, por exemplo, os valores, que são apreendidos e estimados pelas, já por mim aduzidas, consciências inteligentes e, particularmente, querentes. Isto é, consciências capazes de reflectir e querer e, dessa forma, conhecerem e amarem.