
Por Joaquim Armindo
Ao ler a última “Revista de Espiritualidade” (Carmelitas), não pude deixar de refletir sobre um dos artigos que se intitula “Sombras de Desencanto sobre o Trilho da Fé da Igreja de Hoje”, e que, penso, retratar o hoje da Igreja que somos e amamos. O autor, padre João Manuel, elenca alguns factos que muitos de nós querem ignorar, aliás, baseando-se em D. Manuel Clemente (2010), refere ser este tempo como um “tempo de escombros”, sobre o qual existe uma excecional oportunidade de recomeço. O padre João escreve, existir na igreja “uma mesquinhez de entendimento (e de vida) da relação com Deus”, e que muitos cristãos “observantes fiéis e praticantes piedosos, vivem a sua fé sem suspeitar que a vida a que estão chamados é uma comunhão (uma comunhão de vida) com o Deus de Jesus Cristo!”. Traça, também, um retrato dos “rostos” dos que abandonam a igreja e dos jovens que não nos vão suceder.
Para os primeiros refere que “a religião cristã não alegra, se não fecunda, nem serve para conduzir à felicidade, para que serve então? É como o sal da parábola do Evangelho: não serve para nada! E se Deus não serve para nada, como hão-de os homens e as mulheres de hoje sentir-se atraídos pelo Evangelho de Jesus? Não sentem!”. Ainda mais: porque não conseguimos evidenciar o Evangelho como boa notícia, as “nossas igrejas e capelas se esvaziam: claro está que, se o Evangelho já não alenta, e as nossas celebrações já não acalentam nem animam, o melhor mesmo é ir-se embora!”. Quanto aos jovens: “Aceitemos ou não: os jovens veem a Igreja (a paróquia) como uma língua estrangeira que não conhecem e que ainda não decidiram aprender. (…) é verdade que é nos nossos dias que a derrota parece mais iminente; basta reparar que os dias que menos sentido fazem na vida dos jovens de hoje são: sexta, sábado e domingo!”.
Mas, solução para tudo isto? O autor cita Karl Barth: “Que tudo está mal, já todo o mundo o sabe. Mas o que o mundo não sabe (e nós parecemos desconhecer) é que nós e o mundo estamos nas boas mãos de Deus”. O que o mundo não sabe – digo eu – e nós passamos ao lado, é que todos e todas nós somos filhos (as) de Deus, e o Espírito Santo atua. Nós não podemos desconhecer que qualquer pessoa deve ser acarinhada e não, tantas vezes, afastado pelo nosso silêncio.