A “Calenda” de Natal

Na proximidade do Natal do Senhor, voltamos a sugerir a valorização da “Calenda” de Natal. Este «anúncio solene», segundo a descrição do Martirológio Romano (edição oficial Portuguesa de 2013), pode cantar-se segundo a antiga melodia publicada nesse livro litúrgico (p. 70-71). Existem outras melodias das quais destacamos a que foi publicada e ainda se encontra on line no sítio do Secretariado Nacional de Liturgia: www.liturgia.pt/files/partituras/CalendaNatal.pdf. Convém notar que o dia 25 de dezembro, em 2018, ocorre na «lua décima oitava», ou seja, no décimo oitavo dia do mês lunar ocorrente. Nesse sentido, portanto, se deve retificar a melodia.

Qual o momento mais adequado para cantar ou recitar este «precónio» natalício?

A Calenda integra o Martirológio Romano. Cantava-se na Hora de Prima, suprimida na reforma litúrgica. Atualmente, a leitura do Martirológio está prevista para o final das Laudes, a seguir à oração conclusiva da Hora, ou para o final de qualquer Hora Menor (Martirológio, p. 27, n. 1, 5). No Natal, porém, o Martirológio propõe o canto do anúncio solene do Natal no ofício de Vigília (pág. 27) que, desejavelmente, deve preceder a Missa da Noite (cf. rubrica no final do Ofício de Leituras do Natal do Senhor). A Calenda seria o último elemento desse Ofício, seguindo-se a Procissão de entrada da Missa, a qual prosseguiria com o canto do Glória (omitindo-se os demais ritos iniciais da Missa) e a Oração Coleta. Assim se fez no Vaticano durante o Pontificado de Bento XVI.

Acontece que a tradição portuguesa da ceia de consoada, em que se reúnem as famílias, torna pouco viável, na generalidade das paróquias,  a realização de uma vigília a preceder a Missa da noite de Natal. Por isso, a valorização pastoral deste anúncio solene passa pela sua integração nos ritos iniciais da celebração eucarística, tal como se fazia na Basílica de São Pedro, no Vaticano, durante o pontificado de São João Paulo II. A Calenda cantar-se-á, então, após a saudação inicial e uma breve admonição. Omitido o Ato Penitencial, a celebração prosseguirá com o canto do Glória a Deus nas alturas. É essa, também a sugestão do Diretório Litúrgico da CNBB.

Quem deve cantar este anúncio solene do Natal? O canto, segundo as melodias mais elaboradas, supõe ensaio e alguma capacidade vocal. Daí a prática seguida no Vaticano de o confiar a um cantor. Em alternativa, pode pensar-se num diácono ou, até, no próprio Sacerdote que preside à celebração. Quanto ao lugar, a analogia com o canto do Precónio Pascal e com o Anúncio das Festas Móveis no dia da Epifania leva-nos a sugerir o Ambão, o lugar, por excelência do «Hoje» que a Palavra anuncia.

A Calenda de Natal situa o Mistério da Incarnação no contexto da história do cosmos (Criação do mundo e Dilúvio), da história do Povo de Deus (Abraão, Êxodo, David) e da história universal (olimpíadas, fundação de Roma e império de Augusto). O Natal é uma consagração do mundo e da história humana com horizontes ecuménicos de uma abertura verdadeiramente universal. Transcrevemos aqui o texto oficial:

«Dia 8 das Calendas de Janeiro. Lua décima oitava. Passados inumeráveis séculos desde a criação do mundo, quando no princípio Deus criou o céu e a terra e formou o homem à sua imagem; depois de muitos séculos, desde que o Altíssimo pôs o seu arco nas nuvens como sinal de aliança e de paz; vinte e um séculos depois da emigração de Abraão, nosso pai na fé, de Ur dos Caldeus; treze séculos depois de Israel ter saído do Egipto, guiado por Moisés; cerca de mil anos depois que David foi ungido rei; na semana sexagésima quinta, segundo a profecia de Daniel; na Olimpíada cento e noventa e quatro; no ano setecentos e cinquenta e dois da fundação de Roma; no ano quarenta e dois do império de César Octávio Augusto; estando todo o orbe em paz, Jesus Cristo, Deus eterno e Filho do eterno Pai, querendo consagrar o mundo com a sua piedosíssima vinda, concebido pelo Espírito Santo, nove meses depois da sua conceição, nasceu em Belém de Judá, da Virgem Maria, feito homem: Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne».