A nossa fé arranca da Palavra dita e da Palavra escrita. Palavra com maiúscula, pois não se reporta a uma mera sensatez ou sabedoria humana, a uma especulação abstrata, mas à comunicação da Vida que existia antes do mundo e que, a dado momento da história, se tornou diálogo com cada homem e mulher que nele habita. É um Verbo que foi anunciado pelos patriarcas e profetas e “se fez carne e habitou entre nós”.
Este Verbo revela e opera pela Palavra: prega as vias de acesso ao Pai, proclama que é possível uma fraternidade de irmãos, exemplifica em que consiste o perdão e a paz, pela mansidão da sua fala, aproxima os mais frágeis ou fragilizados, em favor de quem realiza obras de salvação. E confia à comunidade dos seus seguidores a tarefa de continuar esta missão. Por isso, deu-lhe uma ordem: “O que vos digo em privado, dizei-o à luz do dia; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o do alto dos telhados” (Mt 10, 27).
A partir daí, os seus amigos e servidores jamais esqueceram o valor operante e criador da Palavra: pregaram às multidões, escreveram longas cartas ou simples bilhetes postais, replicaram a Palavra apreciada, difundiram-na com a imprensa, socorreram-se de todos os meios que os tempos puseram à sua disposição. Leram-na, meditaram-na, difundiram-na, rezaram-na. E alimentaram-se dela.
Mas um dos instrumentos mais usados foi e continua a ser o dos jornais: aí, a mensagem resiste um pouco mais à voracidade da “aceleração da história” e da nossa incapacidade de parar por uns momentos para absorver. E, fundamentalmente, faz com que os acontecimentos se constituam em específica linguagem que fala de maneira mais performativa e arrasta pelo entusiasmo contagiante.
É esta a razão pela qual as dioceses investiram tanto nos seus jornais oficiais ou oficiosos. E é também
este o motivo que «forçou» a passagem de “Voz do Pastor” a “Voz Portucalense”: que não fosse, apenas, um arquivo para os textos do bispo, mas a comunicação da vida de uma Igreja que proclama a fé, gera fraternidade, perdoa e é perdoada, volta-se para os carenciados e, pelo exemplo, incentiva a prática das boas obras.
É isto que a nossa “Voz Portucalense” tem feito e continuará a fazer. Porque ela sabe e todos sabemos que é imprescindível nesta tarefa de comunicar a vida da comunidade diocesana, expressão, ainda que pálida, da vida do Verbo. E a isto é que chamamos “pastoral”. Por isso, mais do que a nossa voz, este jornal é e será a voz da Voz: a voz do Verbo.
+ Manuel Linda, bispo do Porto