«Usai esta igreja! Que ela não seja para esta freguesia apenas um lindo monumento, que admiramos e visitamos; mas nela se forme autêntica comunidade. Que esta seja a casa de família para toda a comunidade!» – assim concluiu, com expressivas palavras, o Sr. Bispo do Porto, D. Manuel Linda, a sua homilia proferida no passado dia 29 de Dezembro, sábado, pelas 17h, em Soalhães, assinalando com o rito de dedicação a conclusão dos trabalhos de restauro da Igreja Paroquial, classificada como Monumento Nacional desde 1977, e hoje considerada uma das mais belas e significativas de todo o conjunto da Rota do Românico.
A obra de restauro, que decorreu ao longo de todo o ano transato, sob o impulso do Sr. Pe. Hermínio Pinto e executada pela Rota do Românico, incidiu essencialmente sobre a talha dourada e a recolocação e recuperação dos painéis de azulejos, ambos datados do séc. XVIII. A profunda intervenção permitiu a delimitação dos diferentes painéis de azulejos, outrora colocados de forma confusa, apresentando agora uma leitura coerente e enriquecedora. Ao mesmo tempo, os técnicos aperceberam-se que os painéis de azulejos eram maiores do que a dimensão das paredes, por razões não totalmente esclarecidas, de tal modo que um dos episódios reconstituídos, não cabendo nas paredes da nave, foi agora instalado na capela-mor que, desse modo, não apenas adquiriu maior nobreza, como uma certa continuidade estilística com a restante igreja. Outra descoberta relevante desta intervenção deu-se na capela lateral, até agora atribuída a Nossa Senhora do Rosário: a recuperação de camadas inferiores de tinta na parte central do retábulo revelou a imagem de um purgatório, denunciando a atribuição autêntica desta capela a S. Miguel Arcanjo, cuja imagem, até agora num nicho ao fundo da nave, foi restituída à sua posição original.
O povo soalhense, visivelmente contente com o restauro da sua Igreja Paroquial, ícone que testemunha a antiguidade e a importância da freguesia, outrora sede de Concelho, acorreu para a chegada do Sr. Bispo, que fez questão de ali se deslocar para dedicar a Igreja. De facto, o Pontifical Romano prevê especificamente que, quando ocorrerem modificações profundas numa igreja, concretamente o seu completo restauro, pode fazer-se a dedicação da Igreja, para que se reavive a força dos seus símbolos (cf. Pontifical Romano, Dedicação da Igreja e do Altar, III, 1).
Nesse sentido, ficou lançado o repto, por parte do Sr. D. Manuel Linda, para que a comunidade paroquial, tendo recebido este belo tesouro do seu passado, a transmita agora «às gerações futuras, com o seu conteúdo de fé, aquela que a edificou do chão, a levantou ao alto e a embelezou», referindo o papel que os diferentes grupos e forças sociais têm nessa construção, falando diante das autoridades civis presentes – a Sr. Presidente da Câmara do Marco de Canaveses, Dra. Cristina Vieira, o Sr. Vice-Presidente, Eng. Mário Bruno Magalhães, o Sr. Presidente de Junta de Freguesia de Soalhães, António Monteiro, e sua equipa executiva – assim como da Diretora da Rota do Românico, Dra. Rosário Correia Machado, e dos representantes das diversas coletividades da freguesia.
No final da celebração, o Sr. Pe. Hermínio Pinto, de quem partiu o impulso da obra, agradeceu a amabilidade da presença do Sr. D. Manuel Linda, frisando a forte mobilização da comunidade paroquial, que desde logo aderiu e colaborou para que a obra fosse realizada. Já na sacristia, foi descerrada uma placa comemorativa e a Dra. Rosário Machado orientou uma breve visita guiada, onde explicou os passos da obra de restauro, as principais surpresas e desafios e apresentou uma leitura da nova disposição dos elementos.
(inf: Filipe Vales)