D. Manuel Linda: Natal é fé, esperança e caridade

O bispo do Porto na Missa de Natal denunciou “um mundo de cinismo que rejeita os grandes valores comprovadamente uteis para a sociedade, só porque vinculados pela Igreja”. Recordou os cristãos “dizimados” um pouco por todo o mundo e afirmou que “não haveria Natal sem a Virgem Santa Maria” que é “virgem antes, durante e depois do parto”.

Na Missa do dia de Natal, celebrada na Catedral do Porto, D. Manuel Linda começou por salientar, na sua homilia, o brado dos anjos aos pastores de Belém: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor”. (Lc 2 , 10)

“Mas porquê a tal “grande alegria”? Que é que esse nascimento trazia de novo à história e à condição de vida daqueles pastores?” – questionou o bispo do Porto. Segundo D. Manuel Linda, estas perguntas devem ser lidas “em chave de fé”: “em Jesus e com Jesus, desaparecem o medo e a solidão, pois Deus vem ao encontro das suas criaturas; o nosso mundo torna-se habitável, já que Deus Se faz concidadão do homem; passa a reinar a luz que destruiu as trevas da mente e do coração; congrega a diversidade à sua volta, representada pelos quase antípodas dos pobres pastores e dos ricos magos do Oriente, porque o presépio é lugar de encontro para todos.”

Em particular, o prelado frisou que “o Verbo nascido Menino” pretende “iluminar e fazer família da humanidade com Deus e das pessoas entre si. Melhor: comunicar-lhes a sua vida para que, com Ele e n’Ele nos tornemos filhos de Deus e irmãos uns dos outros” – afirmou.

D. Manuel Linda assinalou que o Natal é fé, esperança e caridade:

“Natal é fé porque supõe aquele salto de qualidade que nos transporte da ternura do Menino à visão e aceitação do Filho de Deus, daquele que “por nós, homens, e para nossa salvação, desceu do céu”, como professamos no credo. É a aceitação do cumprimento das Escrituras, de que fala a segunda leitura: “Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Mas nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho […]” (Heb 1, 1-2).

Natal é esperança. Como podemos abandonar-nos à tristeza, à angústia, aos medos, ao desespero, se nos sabemos amados e acompanhados por Deus? Se a salvação está connosco e em nós, como podemos deixar-nos submergir pelas trevas do desânimo, pelo pavor do futuro, pelo cansaço da caminhada? Com Ele e n’Ele, a nossa vida adquire um significado novo: a de saber que a grande meta, é o encontro feliz e venturoso com o Pai.

Natal é, ainda, amor ou caridade. Revela-nos até que ponto chega o amor de Deus: não obstante a contínua soberba de imaginarmos que não precisamos de Deus e até alguma rebelião contra Ele, Ele eleva-nos à categoria de seus filhos no Filho. É Ele que nos comunica a vida divina, sem olhar ao preço desta oferta: é o preço da cruz. Por amor e só por amor.

O bispo do Porto declarou na sua homilia que o “mundo tem acentuado deficit de fé, de esperança e de caridade” e por essa razão o Natal está a tornar-se numa “mera festa civil”. “Um mundo onde é politicamente incorreto demonstrar fé” e onde “as instituições da Igreja” não veem reconhecida a sua ação; “um mundo de cinismo que rejeita os grandes valores comprovadamente uteis para a sociedade, só porque vinculados pela Igreja”, “um mundo de dirigentes mundiais que não perde o sono pelo facto de os cristãos serem dizimados no Próximo Oriente, em África e um pouco por toda a terra” – declarou o bispo do Porto.

D. Manuel Linda sublinhou ainda no final da sua homilia que “não haveria Natal sem a Virgem Santa Maria, Aquela que, de acordo com a fé da Igreja -que é também a minha fé!-, é proclamada “virgem antes, durante e depois do parto”, de maneira expressa a partir do Sínodo de Milão (ano 390), ou “Mater intacta”, como dizemos na ladainha. Saudámo-la e agradecemos-lhe profundamente o seu insubstituível contributo para a história da nossa salvação.”

(RS)