Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José

Foto: JLC

Domingo dentro da Oitava do Natal

30 de dezembro de 2018

Leitura do Primeiro Livro de Samuel

1 Sam 1, 20-22.24-28

«Samuel será consagrado ao Senhor todos os dias da sua vida»

Salmo Responsorial Salmo 83 (84)

Felizes os que moram na vossa casa, Senhor.

Leitura da Primeira Epístola de São João

1 Jo 3, 1-2.21-24

«Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus.»

Aclamação ao Evangelho cf. Actos 16, 14b 

Aleluia. 

Abri, Senhor, o nosso coração,

para recebermos as palavras do vosso Filho.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas  Lc 2, 41-52

«Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura».

«Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?».

 

Leitura do Livro de Ben-Sirá Sir 3, 3-7.14-17a

Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial Salmo 127 (128)

Refrão:Felizes os que esperam no Senhor

e seguem os seus caminhos. Repete-se

Feliz de ti, que temes o Senhor

e andas nos seus caminhos.

Comerás do trabalho das tuas mãos,

serás feliz e tudo te correrá bem. Refrão

Tua esposa será como videira fecunda,

no íntimo do teu lar;

teus filhos serão como ramos de oliveira,

ao redor da tua mesa. Refrão

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.

De Sião te abençoe o Senhor:

vejas a prosperidade de Jerusalém,

todos os dias da tua vida. Refrão

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses Col 3, 12-21

Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e predilectos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em acção de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.

Palavra do Senhor. 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 2, 41-52

Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.

Palavra da salvação.

VIVER A PALAVRA

A celebração do Natal do Senhor coloca-nos de olhos postos no Presépio de Belém contemplando Deus que se faz homem na fragilidade e na debilidade da nossa natureza, mas também na beleza e na ternura de um recém-nascido que se faz sinal e presença do amor de Deus no coração da humanidade.

Contemplando este Menino que nasce para nós, contemplamos Maria e José. Maria que no Seu sim total e disponível acolheu o projecto do Altíssimo e José que com total confiança acolheu o sonho de Deus e aceitou ser guarda e protector do Menino e Sua Mãe. Deste modo, no Domingo dentro da Oitava do Natal somos convidados a dar graças pelo dom da família de Nazaré como modelo de vida familiar. Queremos aprender com Maria, José e o Menino, para que também cada um de nós e cada família se tornem um lugar de acolhimento dos projectos e sonhos de Deus.

Apontar a Família de Nazaré como modelo de vida familiar não pode ser de modo nenhum a apresentação de um modelo idílico e inalcançável de vida conjugal, pois como recorda o Papa Francisco na sua exortação apostólica sobre a família, muitas vezes «apresentámos um ideal teológico do matrimónio demasiado abstracto, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efectivas das famílias tais como são. Esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertámos a confiança na graça, não fez com que o matrimónio fosse mais desejável e atraente; muito pelo contrário» (AL 36). Deste modo, eliminando qualquer visão idílica da Família de Nazaré, devemos tomar consciência que através de uma história humaníssima, marcada também por sofrimentos e cansaços, se desenvolve a humanidade livre e libertadora do amor de Jesus.

Tal como nos recorda a Liturgia da Palavra deste Domingo e, de modo particular o texto evangélico, a Família de Nazaré não é para nós um modelo de vida familiar porque a sua vida foi isenta de dificuldades e desafios, mas porque, não obstante todos os desafios e dificuldades, foram fiéis ao desígnio de Deus. Por isso, celebrar a festa da Sagrada Família é a ocasião privilegiada para agradecer a Deus o dom da vida familiar como lugar quotidiano da procura da vontade de Deus.

A família cristã, enquanto Igreja Doméstica, é lugar privilegiado para o encontro com Deus e os irmãos, lugar onde aprendemos a amar e a cuidar, a acolher Jesus e a levá-Lo aos outros. Por isso, no coração da vida familiar deve estar presente o gesto agradecida de Ana que tendo concebido e dado à luz o seu filho Samuel o confia ao Senhor: «eu o ofereço para que seja consagrado ao Senhor todos os dias da sua vida». Na verdade, a vida é um dom a agradecer e a consagrar ao Senhor como lugar de serviço a Deus e aos irmãos.

Este mesmo dinamismo que deve caracterizar a família cristã está presente no Evangelho na peregrinação anual a Jerusalém pela festa da Páscoa. Esta imagem da família peregrina recorda-nos que a família é um lugar permanente de peregrinação em duas direcções: rumo a Jerusalém, isto é, para as coisas de Deus e, em seguida, rumo a Nazaré, símbolo da vida quotidiana e da atenção aos outros.

Deste modo, a Igreja, Família de famílias, tem a exigente tarefa de ser Mãe e Mestra. Mãe que a todos acompanha, integra e acolhe e Mestra exigente que aponta o caminho da vida familiar como lugar de realização e felicidade contemplando o modelo do lar de Nazaré.

 

Homiliário patrístico

Orígenes (séc. III)

Sermão sobre o Evangelho de São Lucas

“Angustiados procuramos Jesus”

Quando Jesus completou doze anos, Ele permaneceu em Jerusalém. Os seus pais, que não sabiam onde estava, procuraram-no solicitamente e não O encontraram. Procuram-no entre os parentes na caravana, entre os conhecidos e não O localizaram. Jesus é, então, procurado pelos seus pais. Não encontram Jesus entre os parentes e consanguíneos, nem O encontram entre os que corporalmente lhe estão unidos.

Jesus não pode ser encontrado numa grande caravana. Repara onde encontram aqueles que O procuram, para que também tu buscando-O possas encontrá-lo como José e Maria. Ao irem à sua procura, diz o Evangelho, encontraram-no no templo; e não simplesmente no templo, mas no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Tu também, busca a Jesus no templo, busca-O na Igreja, busca-O junto aos mestres que existem no templo e não saem dele. Se desta forma O procuras, o encontrarás.

Também hoje Jesus está presente, interroga-nos e escuta-nos quando falamos. Todos, diz o Evangelho, ficavam assombrados. De que se assombram? Não das suas perguntas, por serem admiráveis, mas das suas respostas. Algumas vezes é Jesus quem pergunta, outras, é Ele quem responde. Portanto, para que também nós possamos escutá-Lo, e Ele possa apresentar-nos as Suas respostas, roguemos-Lhe e procuremo-Lo no meio das fadigas e dores e então poderemos encontrar O que procuramos.

Indicações litúrgico-pastorais

1. «Nós, pastores, devemos animar as famílias a crescerem na fé. Para isso, é bom incentivar a confissão frequente, a direcção espiritual, a participação em retiros. Mas há que convidar também a criar espaços semanais de oração familiar, porque «a família que reza unida permanece unida» (AL 227). A celebração da Festa da Sagrada Família é uma oportunidade para os pastores, juntamente com os agentes pastorais ligados à família, acolherem este desafio do Papa Francisco de animarem as famílias a crescer na fé. Nesta celebração pode fazer-se a bênção das famílias, rezarem uma oração por todas as famílias ou, porventura, uma consagração de todas as famílias à Sagrada Família de Nazaré. A criatividade pastoral deverá ajudar a fazer deste momento um lugar de acolhimento para a todos, cumprindo o desafio de acompanhar, discernir e integrar as situações fragilidade.

2. Para os leitores: a primeira leitura narra o nascimento de Samuel e a consagração que Ana faz do seu filho ao Senhor. Deste modo, a proclamação deste texto deve ter atenção ao seu tom narrativo e sobretudo uma cuidada articulação das várias frases em discurso directo. Na segunda leitura deve ter-se uma especial atenção nas frases mais curtas que aparecem no interior do texto, cuidando da sua articulação com o todo da leitura. Pede-se cuidado com a expressão «uns aos outros».

Sugestões de cânticos

Entrada: Os pastores vieram – F. Santos (BML 54| CEC I, p. 69-70); Salmo Responsorial: Felizes aqueles que reconhecem o Senhor (Sl 127) – F. Lapa; Aclamação ao Evangelho: Aleluia, Reine em vossos corações – J. Roux (Guião 2011 – XXXVII ENPL); Ofertório: És príncipe – M. Luís (CAC, p. 90-93; BML 44; NCT 71); Comunhão: Toma o Menino e sua Mãe – F. Valente (BML 94); Final: Adeste Fideles – harm. David Willcocks (ver também NRMS 31; IC, p. 119 e NCT 85); Beijar da imagem do Menino Jesus: Cantem, cantem os Anjos – M. Faria (NRMS 56; CAC I, p. 66-67; NCT 81; IC, p. 124-125);  Gloria in excelsis Deo – Trad. Francesa, harm. David Willcocks (ver também GD, p. 158-160); Na fria lapinha – F. Silva.