Há pelo menos dois grandes motivos para evocar aqui a história da Arménia, um pequeno país de pouco mais de três milhões de habitantes, que é independente desde Dezembro de 1991, e que se situa na Transcaucásia, ou Cáucaso do Sul.
Por António José da Silva
O primeiro desses motivos foi a passagem recente do centenário do fim da primeira guerra mundial, uma efeméride que não se pode lembrar sem se fazer memória daquilo que muitos classificam como o primeiro genocídio da História: o genocídio do povo arménio, alegadamente cometido por tropas do exército turco que combateram ao lado dos alemães nessa guerra.
Foi uma tragédia que se terá saldado em mais de um milhão de mortos, mas cuja responsabilidade histórica os actuais governantes de Ankara fazem questão negar com veemência. Tão veementemente que aceitam mesmo o “castigo” de não poderem fazer parte da União Europeia, cujos membros, e de modo especial a França, exigem à Turquia a assunção dessa responsabilidade.
Depois, há um segundo motivo para evocar aqui a história da Arménia, um motivo que nos toca particularmente: é o facto de esta região do Cáucaso do Sul se ter constituído no primeiro estado cristão do mundo. No ano de 301, ainda antes da conversão do imperador Constantino, o povo que habitava aquela região do Império Romano aderiu ao cristianismo, na sequência, conforme reza a História, do trabalho missionário de S. Judas Tadeu e S. Bartolomeu, De tal modo que ainda hoje a Igreja da Arménia reivindica o nome de Igreja Apostólica.
A reivindicação desta identidade cristã acabou por dar origem a um conflito que, nos finais do século passado, atingiu particularmente a região de Nagorno karabagh, uma região de maioria arménia e cristã que, por circunstâncias históricas, se situa em território do Azerbaijão. O conflito entre os dois países levou mesmo a uma guerra que durou alguns anos e mereceu por isso o interesse da Comunicação Social.
Foi uma guerra que terminou com uma solução que devia ser provisória, mas corre o risco de se eternizar, Quer isto dizer que, enquanto o problema de Nagorno karabagh não for definitivamente resolvido, e não se vè como é que poderá vir a sê-lo, o futuro desta “ilha” cristã que resiste no meio de um mar de países muçulmanos, nunca estará seguro. Não falta pois quem receie que o mais antigo estado cristão da História volte a merecer o interesse do mundo, mas pelos piores motivos …