Francisco aos Coros: Sim à Beleza do canto, não ao protagonismo autorreferencial

Após o Congresso de 2014 e o Jubileu dos Coros de 2016, eventos que contaram com a participação de mais de 8.000 pessoas, realizou-se, de 23 a 25 de novembro (por ocasião da Festa de Santa Cecília, Padroeira da Música e dos Músicos) o III Encontro Internacional de Coros para coros diocesanos e paroquiais, músicos, organistas, maestros e diretores de coro e comissões litúrgicas do mundo inteiro.

A iniciativa contou com o patrocínio do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização e decorreu inteiramente no Vaticano. Momento marcante foi a audiência com o Papa Francisco, no dia 24 de novembro na Sala Paulo VI. Transcrevemos parte do discurso:

«Nos dias passados, como sabeis, decorreu o Sínodo dos Bispos, dedicado aos jovens, e um tema que foi tratado com interesse foi precisamente o da música: “Totalmente peculiar é a importância da música, que representa uma verdadeira e própria atmosfera em que os jovens estão constantemente imersos, bem como uma cultura e uma linguagem capazes de suscitar emoções e de plasmar a identidade. A linguagem musical representa também um recurso pastoral, que interpela de modo particular a liturgia e a sua renovação” (Documento final, 47).

A vossa música e o vosso canto são um verdadeiro instrumento de evangelização na medida em que vós vos tornais testemunhas da profundidade da Palavra de Deus que toca o coração das pessoas, e permitis uma celebração dos sacramentos, em particular da sagrada Eucaristia, que faz perceber a beleza do Paraíso. Não vos detenhais nunca neste esforço tão importante para a vida das nossas comunidades […].

O Concílio Vaticano II, realizando a renovação da liturgia, reafirmou que a «tradição musical da Igreja constitui um património de inestimável valor» (Const. Sacrosanctum Concilium, 112). É mesmo assim. Penso, em particular, nas tantas tradições das nossas comunidades dispersas pelo mundo inteiro, que fazem emergir as formas mais enraizadas na cultura popular, e que se tornam também uma verdadeira oração. Aquela piedade popular que sabe rezar criativamente, que sabe cantar criativamente; aquela piedade popular que, como disse um Bispo italiano, é o “sistema imunitário” da Igreja. E o canto leva avante esta piedade. Através destas músicas e cânticos dá-se voz também à oração e deste modo se forma um verdadeiro coro internacional, do qual sobe em uníssono ao Pai de todos o louvor e a glória do seu povo. […]

Vós estudais e preparais-vos para tornar o vosso canto uma melodia que favoreça a oração e a celebração litúrgica. Não caiais, todavia, na tentação de um protagonismo que ofusca o vosso esforço, e humilha a participação ativa do povo na oração. Por favor, não façais de «vedeta» [«prima donna»]. Sede animadores do canto de toda a assembleia e não vos substituais a ela, privando o povo de Deus de cantar convosco e de dar testemunho de uma oração eclesial e comunitária. Por vezes entristeço-me quando, em algumas cerimónias, se canta tão bem mas as pessoas não podem cantar essas coisas… Vós que compreendestes mais a fundo a importância do canto e da música, não desvalorizeis as outras expressões da espiritualidade popular: as festas patronais, as procissões, as danças e os cânticos religiosos do nosso povo são também eles um verdadeiro património de religiosidade que merece ser valorizado e sustentado porque não deixa de ser uma ação do Espírito Santo no coração da Igreja. O Espírito no canto ajuda-nos a ir em frente.

A música, portanto, seja um instrumento de unidade para tornar eficaz o Evangelho no mundo de hoje, através da beleza que continua a fascinar e torna possível acreditar confiando-se ao amor do Pai».