Centro de Cultura Católica refletiu sobre “Maria Madalena: As mulheres na Igreja”

Decorreu no dia 4 de dezembro de 2018, no Centro de Cultura Católica, a terceira sessão do ciclo A Igreja em saída: Viagem pela Igreja de Francisco, organizado pelo CCC, conjuntamente com a Formação do Diaconado Permanente e o Secretariado Diocesano das Missões, em sintonia com o lema do ano 2018/2019 e no contexto do Ano Missionário especial. O ciclo apresenta o estilo pastoral do papa Francisco e o seu modo de ver a missão da Igreja.

Nesta sessão foi projetado o documentário Maria Madalena: As mulheres na Igreja, introduzido e comentado pela Ir. Maria Filomena Reis, professora de Teologia Pastoral no CCC. Na sua primeira intervenção, referiu que, em pleno século XXI, é «premente re-situar o papel da mulher a nível eclesial», depois do século XX ter sido considerado o “século das mulheres”, pelo facto de ter sido «marcado pela afirmação gradual e progressiva de um novo paradigma antropológico que, ao pôr em discussão a conceção tradicional da mulher relegada pela “natureza” a papéis subordinados, rompeu esquemas antigos e pôs em campo novas dinâmicas de identidade».

Sublinhou em seguida a revalorização de Maria Madalena no pontificado de Francisco, nomeadamente quando, em 2016, por sua vontade, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos elevou a celebração anual de Maria Madalena à categoria de Festa, inscrevendo tal decisão no contexto atual em que se exige uma reflexão mais profunda sobre a dignidade da mulher. Maria Madalena, a “apóstola dos apóstolos”, exprime bem o lugar da mulher no projeto de Jesus, tal como aponta para o seu papel e missão na comunidade primitiva.

Foi precisamente ela o mote para o documentário de Maite Carpio, realizado em 2013, pouco depois do início do pontificado de Francisco. Percorrendo sumariamente a linha da Igreja no tempo, o documentário traçou um percurso pelas grandes figuras femininas que marcaram a história da Igreja entre o passado e presente: Santa Clara de Assis, que no século XIII fundou a ordem monástica das clarissas e estabeleceu uma regra de pobreza absoluta, ainda hoje seguida por milhares de monjas em todo o mundo; Chiara Lubich, que conseguiu ver reconhecida pela Santa Sé a liderança feminina para o movimento dos Focolares que fundou; as mulheres que emergiram no contexto da Ação Católica italiana, entre as quais Alda Miceli di Longobardi, a única mulher italiana a participar no II Concílio do Vaticano. Foi precisamente o concílio a proporcionar a viragem eclesial, também no que respeita à questão feminina. Mesmo subalternizadas, as mulheres na Igreja eram já uma presença importante, e alguns padres conciliares sentiram que não era possível renunciar à sua participação. Assim, durante a segunda sessão do concílio, foi feito um pedido excecional pelo arcebispo de Bruxelas, Leo Suenens, que se dirigiu aos padres conciliares para perguntar onde estava “a outra metade da Igreja”. Em 1964, Paulo VI anunciou a participação simbólica que um grupo de mulheres qualificadas nalgumas sessões do concílio, abrindo caminho a uma valorização eclesial na mulher, expressa particularmente no seu acesso aos estudos superiores em teologia.

O documentário deteve-se a mostrar o papel das mulheres na Igreja contemporânea, evidenciando um numeroso contingente feminino e evocando manifestações singulares do seu trabalho, nomeadamente em Itália, para cujo público foi realizado o documentário: o ermitério franciscano de Campello, fundado nos anos 20 pela Ir. Maria, onde quatro irmãs vivem juntas e tornam possível um lugar onde se oferece uma paragem de paz a quem na vida dela tenha necessidade; a secção para o tráfico de mulheres, criada no âmbito da União das Superioras Maiores de Itália para ajudar as mulheres vítimas do tráfico humano, exploradas nas estradas; o mosteiro das clarissas de Camerino, onde as monjas, depois do terramoto de 1997, trabalharam arduamente para reconstruirem o edifício, ganhando a confiança e o respeito dos locais e tornando possível um espaço de vida religiosa contemplativa.

O documentário deu conta daquela parte da Igreja que muitas vezes não se sente escutada e que assumiria com bons olhos papéis de responsabilidade eclesial. Assim o expressaram as religiosas americanas da Leadership Conference of Women Religious, a poderosa organização que reúne 80% das quase 60.000 religiosas americanas, que, em 2008, foi investigada pela Santa Sé, em razão das suas posições sobre temas como o aborto, a eutanásia e o sacerdócio feminino. Mas foi evidenciado também o caminho já feito com a presença, mesmo se pouco numerosa, de mulheres em lugares de decisão na Igreja, nomeadamente no quadro da Santa Sé. Assim o revelam a escolha da arqueóloga judia Hermine Speier, em 1934, para organizar o arquivo fotográficos dos Museus ou as nomeações da Ir. Enrica Rosanna, em 2004, como subsecretária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada ou da leiga Fremina Giovanelli, em 2010, como subsecretária do Conselho Pontifício Justiça e Paz, hoje do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que agregou aquele.

Às figuras referidas juntaram-se em declarações sobre o tema D. Vincenzo Paglia, então presidente do Conselho Pontifício para a Família; Mons. Ermenigildo Manicardi, teólogo que estudou as mulheres na Sagrada Escritura e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana; Marinellla Perroni, teóloga italiana, professora no Pontifício Ateneu Santo Anselmo; Maria Voce, presidente do Movimento dos Focolares.

No termo da projeção a Ir. Maria Filomena Reis teve ainda oportunidade de usar da palavra para referir alguns desafios respeitantes ao futuro da Igreja. Pôde então dizer que «o grande desafio da Igreja neste sentido relaciona-se com o facto de criar espaços e plataformas onde as mulheres possam fazer-se ouvir […] e possam assumir responsabilidades dentro da Igreja». Acrescentou que tal significa «um novo paradigma eclesial do ponto de vista teológico e antropológico, que dê uma nova configuração à maneira de ser, de estar e de agir da Igreja». Também para este tema se torna premente, segundo disse, «criar estruturas de sinodalidade que possam favorecer o diálogo, a partilha, o encontro, a tomada de decisão, tendo em conta a dimensão feminina da Igreja».

A relevância do ciclo, evidenciada nalguns dos comentários dos que nele vêm participando, e a premência de outros temas fizeram com que os organizadores, a que passa a associar-se também o Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil, decidissem prolongá-lo por mais duas sessões, a decorrer em janeiro e fevereiro. Centrar-se-ão nos jovens, em direção aos quais também o papa Francisco quis e quer continuar a “sair”, como evidencia o recente sínodo dos bispos sobre Os jovens, a fé e o discernimento vocacional ou as próximas jornadas mundiais da juventude, a realizar no Panamá. A sessão de 8 de janeiro, dedicada ao sínodo, contará com D. António Augusto Azevedo, que, depois de nele ter participado como padre sinodal, abordará o tema O jovens e a missão da Igreja: Um olhar sobre o sínodo dos bispos.