
Por Joaquim Armindo
A um passo do Advento fica o Natal, e aí vem a Epifania. Contamos a história dos três reis magos. Eis que apareceu uma estrela e por ela os reis foram até Jesus. Lá ofereceram os seus presentes. O Padre António Vieira, no seu sermão da Epifania, século XVII, adianta a razão de aparecer uma estrela: “A razão (dizem todos) por que era conveniente que aos Magos se enviasse um Embaixador que falasse na sua própria língua. Os Magos eram Astrólogos: a língua, por onde os Astrólogos entendem o que diz o Céu, são as Estrelas: e tal era esta mesma Estrela; à qual chama Santo Agostinho Lingua caeli : “Língua do Céu”; pois vá uma Estrela aos Magos, para que lhes fale na língua, que eles entendem. Se eu não entendo a língua do Gentio, nem o Gentio entende a minha, como o hei de converter, e trazer a Cristo?” Por isso temos por regra, e instituto aprender todos a língua, ou “línguas da terra”, onde íamos pregar: e esta é a maior dificuldade, e o maior trabalho daquela espiritual conquista, e em que as nossas estrelas excedem muito a dos Magos”.
E mais adiante, continua o Padre António Vieira: “Porque como Astrólogos que eram, pelo livro dos Caldeus sabiam que aquela Estrela era nova, e nunca vista; e como discípulos que também eram de Balaão, sabiam pelos livros da Escritura que uma Estrela nova, que havia de aparecer, era sinal da vinda, e nascimento do Messias descendente de Jacó: Orietur stella ex Jacob (Números 24, 17) ”.
Em dias de hoje, costumamos introduzir lamentações, como: pessoas não vão à Igreja, porque não há casamentos e quase batizados, o que há são funerais. Duas coisas o sermão da Epifania de António Vieira nos ensina, que é preciso estudar os sinais dos tempos e estar atentos às línguas que se falam, que podem não ser as nossas. Não nos entendem quando falamos de Jesus, porque deixamos de falar na língua das mulheres e dos homens de hoje. Estamos ainda retidos nos nossos conhecimentos anquilosados e não descortinamos os seus sinais (as estrelas), que aparecem, com todas as surpresas. Precisamos de entender as “estrelas”, estudá-las a apresentarmos o Evangelho na sua profundidade, para as vidas de hoje. Como o Padre Vieira muito bem explica.