Mensagem (12): “O Senhor é a nossa justiça” (Jer. 33, 16)

Foto: João Lopes Cardoso

O Advento projeta-nos para a espera ativa do reino de Deus. Claro que este não é uma mera realidade social. Mas também passa por aí. Ou começa aí, na cidade dos homens, sabendo nós que só se consuma na plenitude da vida gloriosa.

Assim o entendeu Maria de Nazaré, figura tutelar do Advento, a qual, de acordo com a melhor tradição bíblica, cantou os tempos novos em que o Senhor “exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias”. Ou João Batista, a voz incómoda porque zurzidora das rapinas e das injustiças sociais.

Pois bem, embora estejamos bem melhor que há dois mil anos, a realidade também não é cor-de-rosa. Há por aí muita exploração encapotada sob a forma de «produtividade» e «competitividade». E há que denunciá-la. Profeticamente.

Um exemplo: na área da nossa Diocese, instalou-se uma multinacional que adquiriu uma fábrica que já estava em laboração há muitos anos. Esta fábrica, seguia o tradicional horário das 8 às 18. Mas a compradora, que não conhece as pessoas nem com elas se importa, pretende passar ao sistema de laboração contínua, por turnos, incluindo o sábado e o domingo. Durante todo o dia e toda a noite. E não precisa minimamente disso, pois dedica-se a um setor normalíssimo e sem especiais exigências técnicas.

Mas sabe que a laboração contínua é mais lucrativa. Daí a pretensão de fazer “uma experiência-piloto». Entenda-se: tomar o pulso aos trabalhadores para, depois dela, provavelmente, todo o setor passar a esse regime. Para isso, essa multinacional já conseguiu autorização dos Ministérios da Economia e do Trabalho. Vale-se da força que lhe advém do capital para espezinhar a dignidade humana e os direitos sociais. Tudo de maneira muito oficial, muito legal…

Não! O lucro não é tudo. Particularmente quando não respeita o justo encontro e convívio familiar, quando causa doenças de foro psicológico ao não respeitar o ritmo biológico do sono, quando origina insatisfação e irritabilidade, quando coloca a ganância da entidade patronal acima da justa qualidade de vida dos trabalhadores, enfim, quando viola grosseiramente o domingo e seu justo descanso, marco insubstituível da religião para o avanço civilizacional.

Não. Uma consciência católica não pode aceitar este modelo económico que, tal como o juiz iníquo da parábola, “nem teme a Deus nem respeita a pessoa” (Lc. 18, 2).

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