
Por Ernesto Campos
“…deve ser-lhe permitido transferir-se a outras comunidades políticas e domiciliar-se nelas”
Pacem in Terris n.º 25
Ontem os governantes diziam aos jovens “deixem a vossa zona de conforto e emigrem”. Era o que os jovens queriam – emigrar porque o futuro aqui não lhes era nada promissor; e ainda hoje é o que os mesmos jovens pretendem porque ganhar bem é lá fora. São jovens qualificados; o que eles sabem de informática!
Hoje, porém, o que os governantes poem em relevo é que o saldo migratório é positivo: recebemos mais seis mil e tal imigrantes do que os que emigraram; e estes que chegam são homens em idade produtivamente ativa e mulheres em idade fértil.
Portugal sempre foi um país de emigrantes. Com a expansão marítima a partir do século XV fomos à procura de outras terras e por lá fomos ficando a falar e a rezar em português, a “dilatar a fé e o império” às vezes à espadeirada, verdade seja. Já no fim do século foram as Índias, mas ficámos desempregados desde que descobrimos para lá o caminho que, afinal, beneficiou todo o mundo; depois, foram os Brasis e, mais recentemente, Franças e Araganças.
Ultimamente o vento da história mudou. Portugal é procurado por gente mais pobre, gente acossada pela guerra, pela miséria e a fome; de tal modo que afronta perigos inenarráveis em busca . Portugal é cada vez mais de uma vida menos má, um país de acolhimento, um país de segurança, de paz, um país inclusivo que procura integrar gentes de usos e costumes e língua e cultura diferentes num universo intercultural tolerante e mutuamente enriquecedor .
Algum pessimismo larvar ainda se pergunta se, tendo nós tão poucas disponibilidades de emprego para pessoas pouco qualificadas (seis candidatos para cada emprego não qualificado) podemos abrir assim todas as portas a quem vier? Não vêm prejudicar o nosso bem-estar, consumir o que produzimos, comer o nosso pão? Dizem algumas estatísticas que quando o contingente imigratório passa dos 15% da população residente geram-se situações de conflitualidade e dificuldade de integração. O caso é que a nossa tradição migratória, apesar de marcada pela saída, não deixou de acolher judeus e árabes e, no fim do século passado os chamados “retornados” que só vieram desenvolver socialmente, culturalmente e economicamente o País com a sua criatividade, energia e empreendimento.
Diríamos, pragmaticamente, que a onda imigratória que nos chega é seguramente fator de aumento da nossa deficitária taxa de natalidade, de rejuvenescimento da população ativa, sobretudo se desenvolvermos uma política de formação profissional também para os que chegam e de captação de mão de obra qualificada nos falta porque essa emigra.
Por sobre tudo isto, não podemos enjeitar o que sempre foi o nosso modo de viver e conviver, na base princípios éticos (mais do que direitos e deveres porque estão inscritos no mais profundo da nossa natureza): i) Estar de portas e braços abertos para acolher quem vem; todos estamos embarcados na mesma aventura do viver humano. ii) Não cabemos cá todos porque também somos pobres. iii) Que venham por bem, como cremos que vêm.