Mensagem (11): O Estado desvitalizador

A solenidade de Cristo Rei possui dimensão política?

Inegavelmente. Claro que se trata de uma própria visão crente da sociedade e não de uma declaração partidária. Não obstante, é uma celebração que se reporta a uma específica conceção sobre a forma de se viver e organizar a relação entre as pessoas e suas estruturas. E isto é política.

Liturgicamente, foi instituída em 1925, pelo Papa Pio XI, aquele mesmo que tinha por seu lema “A Paz de Cristo no Reino de Cristo”. Também na sociedade, obviamente. Sociedade que, naquela altura, se caracterizava por uma dupla face: laicista e estatista.

A primeira traduzia-se pelo ostensivo afastamento das religiões da textura social, minimizando o seu contributo; a segunda era uma tendência pressentida de afirmação da «estatolatria» que, em cerca de cinco anos, iria conduzir inexoravelmente ao fascismo e ao nazismo. Como, de algum modo, já tinha conduzido ao comunismo soviético.

E hoje? Temo que os perigos não tenham passado. O laicismo é o mesmo, embora, porventura, com as unhas mais envernizadas. E o fortalecimento do Estado, à custa da sociedade, é um dado ainda mais visível.

É verdade que os pressupostos daquele e deste tempo são antagónicos: então, passava pela eliminação dos outros partidos para que a «unidade» -à força- fosse total; hoje, é um processo «democrático» que, em nome da “função social do Estado” está em tudo, mete-se em tudo, inspeciona tudo, elimina tudo o que lhe faça sombra…

Como? Por uma hábil política de «desvitalização»: não proíbe a iniciativa privada, mas corta-lhe as raízes de tal forma que, em curto espaço de tempo, acaba por «secar». Foi o caso do ensino livre: com o pretexto da oferta educativa estatal, desfizeram-se, unilateralmente, acordos que comprometiam as duas partes e serviam a sociedade mais abandonada. Está a ser assim na saúde: por motivos ideológicos, estão-se a retirar equipamentos a Misericórdias e Ordens Terceiras. Igualmente, o mesmo se nota na assistência social: o Estado está a investir milhões na educação pré-escolar, criando uma rede paralela à já existente, onde gastaria imensamente menos, apenas para enfraquecer a livre iniciativa.

O Estado atual é especialista em inverter a ordem das coisas: ele, que é subsidiário da sociedade, está a fazer desta a auxiliar – tolerada, para já – dos seus tentáculos. Melhor: está a fazer a figura daquele médico dentista que, em vez de tratar, recuperar, aproveitar o que se possa, apenas desvitalizasse todos os dentes, os cariados e os sãos. Mas dentes desvitalizados, a curto ou médio prazo, acabam por cair…

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