
Passados mais de dois anos sobre a realização do Congresso dos 90 anos do Escutismo Católico, a Região do Porto voltou a reunir-se em Congresso. O auditório da Junta de Freguesia de Espinho foi o local escolhido. Caminhos do Futuro / Sementes que marcam foi o tema. Divulgamos aqui o essencial da informação sobre este evento escutista publicando texto e fotos partilhadas com a VP por Manuel Joaquim, da revista Flôr de Lis.
Os oradores foram desafiados a apresentar uma comunicação, com a duração de 10 minutos, num dos blocos temáticos subordinados aos seguintes temas: Caminhos da Aventura; Caminhos da Fé e Caminhos da Sustentabilidade.
Da mesa de honra fizeram parte D. Manuel Linda, Bispo do Porto, Pinto Moreira, presidente da Camara Municipal de Espinho, Vasco Ribeiro, presidente da Junta de Freguesia de Espinho, Ivo Faria, Chefe Nacional do Corpo Nacional de Escutas e Paulo Rodrigues, Chefe Regional Adjunto do Porto.
Na abertura do evento Paulo Rodrigues saudou os 220 participantes e referiu ser objectivo do Congresso pensar na “acção”, e no “futuro” para que “com cada um dos jovens” seja possível conseguir que “haja uma efetiva educação para um Mundo diferente”. Na ocasião leu uma mensagem do Chefe Regional do Porto, ausente por motivos de trabalho, que em termos genéricos, nos dizia “…que congresso nasce da vontade de criar espaços de partilha e dialogo sobre o nosso movimento e sobre a forma de como fazemos escutismo no CNE.”
Agradece aos participantes a presença, e a todos que tornaram possível este evento. Envia uma saudação especial para D. Manuel Linda, pois a sua presença é sinal de apoio carinho e preocupação com o nosso movimento. Saúda o amigo Chefe Nacional, demais membros da mesa de honra e deseja a todos que saiamos daqui, depois de escutar os oradores com cada vez mais vontade de deixar o mundo um pouco melhor.”
D. Manuel Linda, Bispo do Porto, cumprimenta todos os presentes e alegra-se em associar o seu nome a este Congresso. O lema que irá debater é rico e oportuno, refere que pode haver uma contradição gramatical mas não, os Caminhos projetam para o futuro, as sementes já marcam. O CNE efetivamente marca e marca como uma das instituições mais válidas que nos temos em Portugal de forma global mas muito mais quando referimos o campo da educação particularmente a educação integral da Aventura da Fé e da Sustentabilidade. Chama a atenção para o facto de “Notamos hoje um estadismo e uma estatização fortíssima. Porventura, depois da queda das ideologias totalitárias umas a partir da segunda guerra mundial, outras mais recente a partir da queda do muro de Berlim, no Sec. 20 e 19 não tenha havido a mesma tendência que os ideólogos chamam a atenção sobre uma certa concentração de tudo a nível do Estado. O Estado para se reafirmar está de alguma maneira a fazer a função dos médicos dentistas, que eu muito admiro, mas que às vezes desvitalizam os dentes. O Estado está a desvitalizar a sociedade, ainda nos permite que tenhamos dentes mas dentes desvitalizados, que a muito curto prazo se vão fragmentar. Notamos que aquilo que não é estatal hoje corre o risco de ser abandonado à sua sorte, não ajudado e por vezes até, não diria perseguido, mas muito encostado à parede. Face a isto a tendência do Escutismo como o maior agrupamento de jovens que existe em Portugal de crianças adolescentes e jovens, corre o risco de deixar-se levar pelo “canto da sereia” e passar a abrigar-se à sombra das instituições públicas, do estado, quando a sua génese é fortemente social. Portanto na hora de vocês pensarem no futuro, nas sementes do futuro, pensem nisto, pensem de facto se querem ser parte integrante da sociedade concreta que é aquela que mais vitalidade apresenta ou, se pelo contrário, se querem acolher à sombra de instituições que parecendo que não são “cantos de sereia” e que levam a uma afirmação mais estatizante e como tal mais desvitalizante da sociedade. Eu sei que a vocês nem sequer se põe esta problemática, mas eu julgo que é meu dever de consciência alertar porque encontramos em certas horas, em certas religiões, mesmo no escutismo, uma tendência muito forte e que pode ser perigosa a médio e mesmo a curto prazo. Parto do principio então que a vossa reflexão, livre, sem dúvida, será como diz o vosso lema, um alerta. O alerta põe-se exatamente nesta capacidade de introspecção, de descobrir as grandes razões que nos devem fazer caminhar por aqui ou por ali e o serviço que vocês podem prestar ao Escutismo é exatamente o da vossa independência em relação a poderes que, porventura, sem darem conta, procuram te-los no seu jogo, e seguirem esta mesma linha de fidelidade expressa, e repito pelo ultima vez, naquilo que já foi referido então, Aventura, Fé e Sustentabilidade”
Ivo Faria, Chefe Nacional do CNE refere “Alegria enorme estar aqui hoje. Há 3 anos atrás procurávamos discutir as dimensões do Ser e as sementes que nessa altura deitamos à terra germinaram, produziram resultados. Há 3 anos atrás discutíamos que era muito importante aumentar a participação dos jovens para ajudar a construir e enriquecer o CNE. Esta sala que está aqui hoje é sinal disso mesmo. É interessante verificar que estes Congressos, Debates e Reuniões produzem frutos, são capazes de os ajudar a crescer e por isso gostava de dar os parabéns aos irmãos escutas da Região do Porto que criam estas oportunidades para, mais do discutir e falar, ouvir novas ideias e com isso crescer.”
Pinto Moreira, Presidenta da Câmara Municipal de Espinho, depois de cumprimentar as entidades presentes e participantes do Congresso, sintetizou referindo que “ …Ser melhores ! Desafio da nossa vida. Aperfeiçoar a nossa personalidade bebendo dos valores que Escutismo Católico nos transmite, os valores da solidariedade , da fraternidade, da amizade, do companheirismo, da partilha do pão e, portanto, bebendo destes valores, aperfeiçoamos o nosso Ser e tornamo-nos melhores cidadãos.”
O Bloco 1, Sementes que marcam, Caminhos da Aventura, moderado por João Pedro Morais do Agrupamento 10-Cedofeita, foi aberto pelo Pedro Castelo, escuteiro, Desbravador, dos Adventistas do 7º Dia, que nos apresentou o seu Projeto Climb for Hope. Vão escalar as 28 montanhas mais altas da Europa em que cada metro de subida transformar-se-á num Euro. O objetivo, apoiar um Centro de Refugiados na Sérvia da ADRA(ONG) presente em mais de 130 países, apoia projetos de desenvolvimento em países menos desenvolvidos e dá formação vocacional aos refugiados no sentido de, uma vez que os cursos são certificados pela EU, lhes proporcionar ferramentas para conseguirem, com mais facilidade, obter emprego que lhes permitirá refazer as suas vidas, e olhar para o futuro com mais esperança.
Pedro Guedes (Espaços Naturais) deu-nos conta do quão importante foi para ele o Escutismo, nomeadamente o Agrupamento 6 Bonfim da Região do Porto, que foi a sua grande inspiração para passar do sonho à realidade de ser o que é hoje, Guia de Montanha. Lá, através do Sistema de Patrulhas, adquiriu as ferramentas necessárias para o que hoje faz.
João Meireles (Ovelha) do Agrupamento 109 – Santo António dos Olivais, falou-nos do quanto importante é regressar à origens e também do quanto é importante pensar fora da caixa e fazer com que, nos nossos Agrupamentos, promovamos acampamentos com um duração superior a 7 dias pois, melhor do que estar na sede, é estar em campo onde uma semana de campo equivale a 6 meses de ensinamentos na sede, já o dizia BP.
O Bloco 2, Sementes que Marcam…Caminhos de Espiritualidade, moderado por Raquel Kritinas, Secretária Nacional Pedagógica, teve inicio com a intervenção da Irmã Rita Cortez (Associação Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade). A sua mensagem é simples mas forte “A natureza não necessita das pessoas, as pessoas, essas sim, necessitam da natureza.” É necessário um cultivo de sólidas virtudes, de uma nova espiritualidade que nos conduzirá a uma nova cultura onde todos entendamos que tudo está interligado e interdependente. O grande desafio, a Ecologia integral.
Isabel Fontes (Chefe de Núcleo Terras de Santa Maria), falou-nos de animar a Fé no Escutismo e a sua mensagem é igualmente simples. Animar a fé é uma brincadeira muito séria, ela é tão natural como a tua sua sede e só pode entrar através do jogo. Não pode ser à força. A dimensão espiritual do Corpo Nacional de Escutas passa necessariamente por trabalhar a capacidade das crianças e jovens à abertura e relacionamento com o mistério de Deus, tal como ele se revelou em Jesus Cristo. Tem de haver uma referência clara, explícita e inequívoca a Jesus Cristo, Sem isto o CNE não é escutismo católico.
Carlos Fernandes (Cali) (Agrupamento 449 – Santíssimo Sacramento) falou-nos da necessidade de não complicarmos as coisas, referiu que ninguém dá o que não tem e sendo a fé um caminho que temos que a trabalhar, que a consolidar primeiro em nós para a posteriormente a podermos transmitir aos outros. A fé pode ser aprofundada durante um hiKe, em acampamento, com outros leigos, etc. Transmitir a fé é transmitir a Vida, é Estar, é ser Autêntico é ser Simples é Dar Tempo ao outro.
O Bloco 3, Sementes que Marcam…Caminhos da Sustentabilidade, moderado por Daniel Gomes do Agrupamento 391, Antas, foi iniciado por Salvador Malheiro (Presidente da Câmara Municipal de Ovar) que nos referiu que a sustentabilidade é imprescindível para o futuro, pois não nos podemos esquecer que “não herdamos a terra dos nossos Pais, pedimos emprestada aos nossos filhos”. É necessário antes de mais bom senso no sentido de sermos capazes de conciliar os apelos ambientais, sociais e económicos. É necessário mitigar as alterações climáticas, promover a economia circular pois, temos que ter consciência de que os recursos são finitos e, mais cedo do que possamos julgar, não vão chegar para todos. Novas políticas públicas no que toca ao ar, água, resíduos, energia, solo, ordenamento territorial e biodiversidade tem de ser urgentemente pensadas e implementadas. É necessário incutir apetência para poupança e responsabilidade individual. A valorização dos recursos naturais bem como a educação ambiental são também fatores chaves para que possamos vencer o desafio que se nos depara.
Vítor Pereira (Agrupamento 274 – Espinho), referiu na sua intervenção que temos urgentemente de mudar consciências, de assumir a vontade de mudar, no sentido de sermos capazes de inverter a nossa pegada ecológica que neste momento, tendo em conta o estilo de vida em Portugal é de 2 planetas. É necessário um balanceamento correto das necessidades e dos recursos. É necessário recorrer, cada vez mais às energias renováveis, à captura de CO2, de fechar cidades à circulação automóvel, apostar mais na carne limpa. Criar uma política de rótulagem que contemple o impacto na pegada ecológica, etc.
José Rodrigues (Secretário Nacional Ambiente e Sustentabilidade) refere que a preocupação ambiental no CNE não é de agora. Um grande caminho já foi feito desde a criação do 1º Departamento do Ambiente em 1980 mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. No CNE pretendemos induzir os jovens a estar na natureza com respeito, sensibilizados e conscientes de que devem ser agentes de mudança a nível local e global. São já bastantes as oportunidades educativas que o Departamento do Ambiente do CNE facilita entre as quais os programas Scouts of the World, trabalha as áreas Ambiente, Desenvolvimento e Paz, Insígnia Mundial do Ambiente com programas distintos para a I,II,III, os Trilhos da Natureza, o Leave No Trace, princípios básicos que tornam as atividades ao Ar livre mais sustentáveis, o projeto Rios, BioDiversity4All, entre outros. Neste momento o CNE está representado em praticamente todas as estruturas nacionais relacionadas com o Ambiente, onde procuramos estar presentes, marcar a nossa diferença, ter a nossa visão, mas sempre com uma preocupação porque nós não somos uma Associação de Defesa do Ambiente, somos uma Associação equiparada a uma Associação de Defesa do Ambiente, porque o nosso objetivo é formar, educar jovens ativos para o futuro, cidadãos completos capazes de fazer a mudança no mundo, no ambiente e nas outras coisas todas.
Paulo Rodrigues, Chefe Regional Adjunto concluiu referindo …”que levamos daqui sementes concretas. Nos Caminhos de Aventura tivemos testemunhos que nos levam a acreditar, re-acreditar ou confirmar a nossa crença de que o Escutismo tem o seu papel mais eficaz junto da natureza e que é na natureza que ele proporciona maior capacitação aos jovens. Concluímos que teremos provavelmente de abdicar mais do nosso tempo para estarmos perto da natureza para que os jovens tenham cada vez mais uma relação próxima com ela. Nos caminhos da fé por repto do Papa Francisco, sabemos hoje que aquilo que a natureza e o homem estão intimamente ligados e devemos portanto deixar de ser mais observadores da natureza e devemos ser com ela cuidadores da casa comum, não só para que ela fique melhor e retorne a um ponto de equilíbrio mas também para que cada um dos nossos irmãos consiga estar melhor. Só podemos ser testemunhas de fé e de exemplo se isso vier dentro de nós e conseguirmos passar isso a cada um dos jovens que nos são confiados. A partir daí e de toda essa concepção, a casa comum e a sustentabilidade do terceiro painel que nos foi apresentado com elementos muitos concretos, de qual é que é o desafio global mas que nós temos também de pensar localmente. Foram em concreto apresentados muitos desafios em que a sustentabilidade e o ambiente podem ser abraçados pelos jovens consciencializando-os dos desafios que tem na sua geração e nas gerações vindouras para o planeta. Saber que as três dimensões deste congresso nestas várias conclusões são algo que poderão abraçar em cada uma das vossas unidades é algo que nos apraz.
No mesmo dia, à noite, a partir das 21h00, no mesmo local, teve lugar a Gala da Região do Porto, que assinalou e distinguiu, em jeito festivo, de acordo com critérios estabelecidos, aqueles que, mais se destacaram no trabalho desenvolvido durante o ano escutista 2017/2018, a diferentes níveis, e as entidades e agentes externos que colaboraram com a Região do Porto.
Realçamos o prémio atribuído à Camara Municipal de Ovar AUTARQUIA + AMIGA DO ESCUTISMO e menções honrosas pelo seu apoio ao Escutismo às Camara Municipais de Matosinhos, Penafiel, Ovar, Gondomar, Paredes, Maia, Espinho e à Junta de Freguesia de Espinho.