O Sínodo da Juventude não ignorou a temática litúrgica, como facilmente se depreende da leitura dos relatórios dos Círculos Linguísticos e, sobretudo, do documento final, divulgado na sua versão oficial em Italiano, mas que urge ler e aprofundar.
Da primeira parte deste documento, destacamos os números 47 e 51. O número 47 refere a importância que os jovens dão à expressão artística nas suas várias expressões. Ao cultivarem a beleza, a verdade e a bondade, os jovens crescem ao mesmo tempo em humanidade e na sua relação com Deus. Importa, por isso, recuperar a «via pulchritudinis» – o caminho da beleza – tanto na evangelização como na expressão da fé.
Destaque particular é dado à música que veio a tornar-se um verdadeiro e próprio ambiente ou atmosfera em que os jovens vivem constantemente submersos a ponto de caracterizar a cultura juvenil ao fornecer-lhe linguagens (o documento falo no singular, mas talvez se deva entender no plural) capazes de os emocionar e de plasmar a sua identidade. A linguagem musical torna-se, assim, um importante recurso pastoral que interpela a liturgia e a sua renovação. Mas aqui surge um problema: a homologação dos gostos em chave comercial ou seja, a ditadura comercial que impõe as modas e condiciona os gostos. Esta estandardização comercial das modas musicais a que se assiste, também entre nós, comporta um risco que o Sínodo reconhece: o de comprometer a ligação – porventura, pode acrescentar-se, de provocar uma rotura – com as formas tradicionais da expressão musical e litúrgica. É um formidável desafio sobre o qual importa refletir. A resposta, também aqui, deverá passar pelo equilíbrio conciliar que combina sã tradição e legítimo progresso (SC 23).
O nº 51 do Documento Sinodal dá voz às «reivindicações litúrgicas» dos jovens católicos. Eles «pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de intercetar a sua vida quotidiana, numa liturgia fresca, autêntica e alegre». A este respeito, constatam-se, a nível global, duas situações contrapostas:
a) «Em muitas partes do mundo a experiência litúrgica é o recurso principal para a identidade cristã e conhece uma participação ampla e convicta. Os jovens reconhecem nela um momento privilegiado de experiência de Deus e da comunidade eclesial e um ponto de partida para a missão». Seria interessante saber a que partes do mundo se refere o texto, até para analisar tais experiências positivas e delas retirar ensinamentos e exemplo para a nossa realidade que parece ser, infelizmente, a que a seguir se retrata:
b) «Noutros lados, pelo contrário, assiste-se a um certo afastamento dos sacramentos e da Eucaristia dominical, percebida mais como preceito moral do que como feliz encontro com o Senhor Ressuscitado e com a comunidade. Em geral constata-se que, mesmo onde se oferece a catequese sobre os sacramentos, é débil o acompanhamento educativo para viver a celebração em profundidade, para entrar na riqueza mistérica dos seus símbolos e dos seus ritos» (ibid.).
Parece óbvio que esta descrição crítica pretende retratar a situação que se vive entre nós e em muitos países da cristandade de outrora em que o binómio «Jovens – Liturgia» se tende a resolver pela via infeliz do divórcio.
O contraste das descrições é, provavelmente, simplificador. Mais do que uma análise científica certificada, descrevem-se tendências típicas, estereótipos. Certo é que o desafio pastoral que se nos apresenta é o de fazer evoluir a relação «Jovens – Liturgia» do estereotipo b) para o a).