Em países democráticos são raros os casos que não confirmem as sondagens que antecedem uma consulta eleitoral. Assim aconteceu com Estados Unidos, no passado dia seis de Novembro com a realização das chamadas eleições intermédias para o Congresso, para o Senado e para outros cargos importantes.
Por António José da Silva
De qualquer modo, os resultados politicamente mais significativos eram os que diziam respeito à fonte do poder legislativo que se divide entre o Congresso e o Senado. Ora, esses resultados vieram confirmar todas as sondagens e previsões, que apontavam para uma clara divisão dos eleitores americanos: o partido democrata reconquistou a Câmara dos Representantes e o partido republicano manteve a sua maioria no Senado.
Todos tiveram razões para cantar uma pequena vitória e todos tiveram motivos para admitir que também perderam. Tratava-se de uma consulta que não seria, à partida, susceptível de provocar grandes paixões, dentro e fora do país, já que nos Estados Unidos, esses sentimentos estão reservados normalmente para as eleições presidenciais. Só que as eleições intermédias deste ano assumiram, justificadamente, o carácter de um referendo aos dois primeiros anos da presidência de Donald Trump.
O partido democrata apostou claramente nessa estratégia, convencido como estava do peso negativo que a imagem pessoal e política do presidente teria no resultado desta consulta. Tratava-se de uma imagem profundamente negativa e que foi veiculada insistentemente pela grande maioria dos “media” e de figuras muito conhecidas do mundo americano do espectáculo.
No final, o que se pode dizer é que o presidente saiu ferido desta batalha, embora não ferido de morte. Graças particularmente à situação económica do país e ao seu reflexo na vida dos eleitores. Mesmo assim, qualquer proclamação de triunfo ao jeito daquela que o presidente fez, logo que foram conhecidos os primeiros resultados, soa a ridículo, o que não é propriamente surpresa, atendendo ao comportamento de Trump, mas o mesmo se pode dizer das efusivas reacções de muitos do seus opositores.
É verdade que o domínio da Câmara dos Representantes confere ao partido democrata a possibilidade de marcar a agenda política dos próximos dois anos em matéria legislativa, mas a maioria republicana do Senado pode constituir uma força de bloqueio que o presidente não deixará de utilizar.
Em resumo, os resultados destas eleições nem constituíram uma surpresa nem vieram abrir janelas de esperança para quantos ainda acreditam que os Estados Unidos podem vir a recuperar a liderança moral e política do mundo.