II Dia Mundial dos Pobres: O Senhor escuta o grito do pobre

O dia 18 de novembro de 2018, XXXIII Domingo do Tempo Comum é o II Dia Mundial dos Pobres. Instituído pela Carta Apostólica ‘Misericordia et misera’ o Dia Mundial dos Pobres inspira-se no Ano Santo da Misericórdia (2015-2016). Assinalamos o essencial da Mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres neste ano de 2018.

Por Rui Saraiva

O ano 2017 foi o primeiro a ter um Dia Mundial dos Pobres. Uma iniciativa que se celebra no XXXIII Domingo do Tempo Comum. Contudo, o Papa não quer que o assunto dos pobres seja assunto para um só dia do ano. Francisco deseja que se desenvolva uma renovação da pastoral da caridade nas comunidades cristãs, por forma, a que se “instale uma tradição que seja contribuição concreta para a evangelização no mundo contemporâneo” – escreveu o Santo Padre na sua mensagem para o I Dia Mundial dos Pobres.

No final da sua mensagem em 2017, o Santo Padre afirma: “Que este novo Dia Mundial se torne, pois, um forte apelo à nossa consciência crente, para ficarmos cada vez mais convictos de que partilhar com os pobres permite-nos compreender o Evangelho na sua verdade mais profunda. Os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho.”

Nas palavras do salmista

“Este pobre grita e o Senhor o escuta” (Sl 34,7) – é através das palavras do salmista que o Papa Francisco se dirige ao povo de Deus neste II Dia Mundial dos Pobres afirmando que através destas palavras “somos chamados a encontrar-nos com as diversas condições de sofrimento e marginalização em que vivem tantos irmãos e irmãs nossos que estamos habituados a designar com o termo genérico de pobres”.

Este salmo permite-nos “que compreendamos quem são os verdadeiros pobres para os quais somos chamados a dirigir o olhar, para escutar o seu grito e conhecer as suas necessidades” – refere o Papa na sua Mensagem sublinhando que “o Senhor escuta os pobres que clamam por Ele e que é bom para com os que n’Ele procuram refúgio, com o coração despedaçado pela tristeza, pela solidão e pela exclusão”.

“Ninguém pode sentir-se excluído pelo amor do Pai, especialmente num mundo que frequentemente eleva a riqueza ao primeiro objetivo e que faz com que as pessoas se fechem em si mesmas” – escreve o Papa.

Três verbos na atitude do pobre

O Papa Francisco assinala na sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres de 2018 três verbos que caracterizam a atitude do pobre no salmo citado: “Este pobre grita e o Senhor o escuta” (Sl 34,7). Desde logo, o verbo gritar ao qual deve ser dado espaço através do “silêncio da escuta”. O Santo Padre diz que é com a escuta que iremos reconhecer a voz dos pobres. Francisco considera ser necessário “acolher realmente o grito do pobre” num compromisso direto.

O segundo verbo é “responder”. Escreve o Papa: “O Senhor, diz o salmista, não só escuta o grito do pobre, como também responde. A sua resposta, como está atestado em toda a história da salvação, é uma participação cheia de amor na condição do pobre” – escreve o Papa assinalando que “a resposta de Deus ao pobre é sempre uma intervenção de salvação para cuidar das feridas da alma e do corpo, para repor a justiça e para ajudar a recuperar uma vida com dignidade”.

O terceiro verbo é “libertar”: “O pobre da Bíblia vive com a certeza que Deus intervém a seu favor para lhe restituir a dignidade. A pobreza não é procurada, mas é criada pelo egoísmo, pela soberba, pela avidez e pela injustiça. Males tão antigos como o homem, mas mesmo assim continuam a ser pecados que implicam tantos inocentes, conduzindo a consequências sociais dramáticas” – afirma Francisco sublinhando que “a salvação de Deus toma a forma de uma mão estendida ao pobre, que oferece acolhimento, protege e permite sentir a amizade de que precisa. É a partir desta proximidade concreta e palpável que tem início um genuíno percurso de libertação” – afirma Francisco.

Nos pobres a presença de Deus

Na sua Mensagem o Papa escreve que “os pobres são os primeiros a estar habilitados para reconhecer a presença de Deus e para dar testemunho da sua proximidade na vida deles. Deus permanece fiel à sua promessa e, mesmo na escuridão da noite, não deixa que falte o calor do seu amor e da sua consolação. Contudo, para superar a opressiva condição de pobreza, é necessário que eles se se apercebam da presença de irmãos e irmãs que se preocupam com eles e que, ao abrir a porta do coração e da vida, fazem com que eles se sintam amigos e familiares”. Francisco pede que “neste Dia Mundial” sejamos capazes de tornar concretas as palavras do salmo: «Os pobres hão de comer e serão saciados» (Sl 22,27)”.

“Sabemos que, no templo de Jerusalém, depois do rito do sacrifício, tinha lugar o banquete. Em muitas dioceses, esta foi uma das experiências que, no ano passado, enriqueceu a celebração do primeiro Dia Mundial dos Pobres. Muitos encontraram o calor de uma casa, a alegria de uma refeição festiva e a solidariedade dos que quiseram partilhar a mesa de maneira simples e fraterna. Gostaria que, também este ano, bem como no futuro, este Dia fosse celebrado com a marca da alegria pela redescoberta capacidade de estar juntos. Rezar juntos em comunidade e partilhar a refeição no dia de domingo. Uma experiência que nos leva de volta à primeira comunidade cristã, que o evangelista Lucas descreve com toda a sua originalidade e simplicidade: «Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. […] Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um» (At 2,42.44-45)” – escreve o Santo Padre na sua Mensagem.

Descobrir a beleza do Evangelho

No final da sua Mensagem para o II Dia Mundial dos Pobres o Papa Francisco convida os católicos a tornarem possível, concreta e “palpável a resposta da Igreja ao grito dos pobres”:

“Convido os irmãos bispos, os sacerdotes e, de modo particular, os diáconos, a quem foram impostas as mãos para o serviço aos pobres (cf. At 6,1-7), juntamente com as pessoas consagradas e tantos leigos e leigas que nas paróquias, nas associações e nos movimentos tornam palpável a resposta da Igreja ao grito dos pobres, a viver este Dia Mundial como um momento privilegiado de nova evangelização. Os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho. Não deixemos cair no vazio esta oportunidade de graça. Neste dia, sintamo-nos todos devedores para com eles, para que, estendendo reciprocamente as mãos um ao outro, se realize o encontro salvífico que sustenta a fé, torna eficaz a caridade e habilita a esperança para prosseguir com firmeza pelo caminho em direção ao Senhor que vem.”