Palavras e gestos

Por João Alves Dias

Em 22 de setembro, a Associação Católica do Porto promoveu uma romagem à terra de D. António Barroso que terminou no “Paço Episcopal do Exílio”. Fomos, gentilmente, recebidos pelo atual proprietário, também chamado António Barroso, que se tem esmerado em manter viva a memória do seu tio-avô.

Para celebrar o 164º aniversário do seu nascimento (5/11/1854), convido-vos a conhecer esta figura ímpar da nossa história, nas suas palavras e gestos.

– Em 1888, ainda missionário em Angola, veio a Lisboa e proferiu, na Sociedade de Geografia e repetiu no Ateneu Comercial do Porto, uma conferência sobre o Congo onde afirmou que o missionário africano devia levar “numa das mãos o crucifixo e noutra a enxada, símbolo do trabalho abençoado por Deus. Deve ser padre e artista, pai e mestre, doutor e homem da terra”. E denunciou o colonizador sem moral “que estrangulava os laços que prendiam o filho ao pai e a mãe à filha, o despovoador da região, o destruidor de todos os afetos, o homem sem coração, que ganhava punhados de ouro, vendendo aquele que a religião dizia ser irmão”. Deu brado. “Sem papas na língua”.

– Numa pomposa receção na Câmara de Barcelos, ao entrar, viu Dona Adelaide Limpo. Logo se aproximou dela e disse: “Então Vª Excia, que tantas vezes me matou a fome, ajoelhada diante de mim?!. Deixe-me antes dar-lhe um abraço”.

– A propósito do Colégio Português em Roma que ajudou a fundar, escreveu: “Porque nada tenho mais a peito que esta obra providencial, nem qualquer outra coisa vejo maiores esperanças de regeneração e de salvação para esta nação…

– Na sua carta de apresentação à diocese do Porto, afirmou: “O Paço do vosso bispo há-de ser o refúgio dos vossos males. Cada habitante da nossa diocese terá em nós não só o pastor mandado pela Igreja mas um amigo sincero, leal e dedicado”

– Já Bispo do Porto, disse que a ignorância religiosa é um “encarniçado inimigo da Igreja e de Deus: inimigo que é preciso vencer e aniquilar”. Para isso, recomendou que os sermões não fossem “ocos de doutrina” e que os pregadores “não devem pregar a si próprios, mas a Jesus Cristo crucificado.”

– No plano social, defendeu o trabalho como “nobre meio de se ganhar o sustento de cada dia”. Lembrou aos patrões que “brada ao céu o pecado de se não pagar a quem trabalha o jornal merecido e justo”. Reconheceu a importância dos sindicatos e afirmou que a «questão social» só se resolverá “pelo princípio da solidariedade humana e da fraternidade cristã”. Durante a 1ª Guerra Mundial, clamou contra a “exploração monstruosa, sem entranhas nem pudor”.

– Em hora de perseguição, confessou: “Há duas coisas de que não morrerei: de parto ou de medo”. No testamento, sintetizou: “Nasci pobre, rico não vivi e pobre quero morrer.” Bondade do coração; largueza de espírito; coragem no agir; santidade na vida…