
Por Lino Maia
Nascido em Coimbra em 28 de Julho de 1921, Francisco de Nápoles Ferraz de Almeida e Sousa morreu no Porto no dia 17 de Outubro de 2018. Connosco permanecerá o dom de um homem muito bom, muito crente, muito culto e muito dedicado.
Enquanto estudante, veio para a cidade que o seduziu. Foi rosto da Associação Industrial e, quando parecia imperar um certo receio ideológico, ele defendia convictamente a industrialização, como, por exemplo, o fez por quatro vezes no tempo do Estado Novo, na Assembleia Nacional, onde, aliás, o Porto e a sua envolvência por si foram bandeiras desfraldadas oito vezes – as outras intervenções foram para falar de competências do Estado, comunicação social, escolas militares e saúde.
Mas a valorização do património, o reconhecimento das gentes do Porto e a grandeza da cidade que ele adotou não foram apenas proclamados na Assembleia onde era uma voz respeitada. Reconhecimento das gentes e do “estilo” do Porto também estiveram bem presentes quando, em 1969, na sua qualidade de vice-presidente da União Nacional, ele que era considerado um homem conservador, foi convidar e impor os homens do Porto, que na Assembleia Nacional viriam a formar a Ala Liberal e a apontar as vias da democracia e dos direitos humanos. Voz respeitada também o foi no período de consolidação democrática, como autarca, em que fez prevalecer a ponderação. Valorização do património e das gentes do Porto também foram seu tema no Tripeiro, nos livros que escreveu e nas páginas dos jornais – como, por exemplo, ele defendia a preservação valorizada da Ponte Dona Maria!…
Foi esse homem crente e profundamente austero que se fez discípulo do Padre Américo e que percorreu o Barredo: o Centro Social foi concebido para apoiar aquelas gentes. Assim continua a ser com as suas respostas sociais de que muitos têm vindo a beneficiar.
Também foi aquele homem que adotou centenas de “filhas”. Nos anos setenta abraçou o Lar de Nossa Senhora do Livramento onde foram acolhidas centenas de raparigas e onde lhes foi proporcionado um crescimento integral. Tratava cada uma delas como filha (ou neta) e para elas queria sempre o melhor – como se fossem “meninas do Colégio do Rosário”, como também o disse referindo-se a elas e às Irmãs do Coração de Maria que, também nos anos setenta, para ali ele trouxe para que, com as suas competências, dedicação e fé, garantissem o melhor futuro para as “suas” filhas. Como foram tão importantes estas Religiosas na formação daquelas raparigas!
Porque ele queria o melhor para elas, fez belo e acolhedor aquele Lar! Porque conhecia o percurso de todas elas, não temia percorrer as ruas da Sé, do Aleixo, do Barredo e de outras zonas para convidar as mães a continuarem a “dar colo” às suas filhas. Porque queria vê-las crescer harmoniosamente, favorecia uma formação integral em que também entrava o crescimento na fé – e ele que era um homem rígido nos seus princípios até compreendia alguns desvios na liturgia desde que “o essencial” ali estivesse para aquelas raparigas apreciarem o valor da fé e saborearem a eucaristia. Excessivamente frugal na sua apresentação, parecia vaidoso quando via aquelas jovens sair dali bem aprumadas, bem formadas para enfrentar os desafios da vida e bem habilitadas para construírem um mundo bem melhor que aquele que tinham encontrado.
Porque só se morre quando se desaparece do coração de alguém, o Engº Almeida e Sousa é imortal porque sempre teve Deus no seu coração e está no coração da cidade do Porto, no coração de muitos e de muitas, no coração da Igreja e no coração de Deus.