A segunda volta das eleições presidenciais brasileiras acabou por confirmar a vitória de Jair Bolsonaro, por números que não deixam dúvidas, embora sua vantagem tenha diminuído já na parte final da campanha. Mesmo assim, trata-se de números que não deixam dúvidas acerca do sentimento de rejeição que a maioria do brasileiros manifestou com o seu voto, relativamente ao candidato conotado com a esquerda.
Por António José da Silva
Muito se disse e se escreveu em Portugal sobre qual era o sentimento de rejeição dominante nestas eleições, porque seria esse sentimento a decidir o resultado final da consulta: se o sentimento de rejeição de Bolsonaro ou o sentimento de rejeição de Hadad, embora não se deva esquecer que ele estará sempre presente em todas as eleições, porque a preferência por algum candidato significa normalmente a rejeição de outro.
Quando se faz uma escolha, há uma outra que se rejeita, embora a escolha signifique geralmente uma opção pela positiva e não pela negativa, como parece ser o caso. Se tivermos em conta o clima mediático que envolveu a consulta do passado domingo, temos de reconhecer que esse clima foi amplamente desfavorável a Bolsonaro. Não apenas amplamente desfavorável, mas militantemente desfavorável. Foi assim em Portugal e na maior parte dos países democráticos do mundo dito ocidental.
A impressão geral, e que ainda permanece em alguns meios, era a de que um triunfo de Bolsonaro constituiria uma verdadeira catástrofe para o Brasil. Neste tempo em que o acesso à informação internacional se tornou comum, os brasileiros confrontaram-se pois diariamente com a imagem que os meios de comunicação estrangeiros davam de um candidato tido como de extrema direita, e não apenas do ponto de vista político, mas também do ponto de vista comportamental.
Apesar disso, Bolsonaro venceu com relativo à vontade, se tivermos em conta os resultados de eleições idênticas realizadas noutros países. Há pois razões para afirmar que o resultado mais significativa deste sufrágio presidencial foi a derrota de de Hadad, o candidato de Lula e do PT.
No seu discurso de vitória, Bolsonaro fez promessas e afirmações que ultrapassam as fronteiras perigosas dos seus amedrontadores discursos de campanha, o que pode levantar agora algumas dúvidas sobre qual virá ser o seu verdadeiro comportamento no exercício das suas funções presidenciais.
São dúvidas que poderão ou não ser esclarecidas até à sua tomada de posse, em Janeiro do próximo ano. De qualquer modo, só o tempo dirá se os receios de muita gente terão sido plenamente justificados.