
Nasceu um documento final deste Sínodo dos bispos. Que começa com as mesmas palavras do título deste artigo. Este documento foi entregue ao Papa e este decidirá que destino lhe deve dar.
Por João Pedro Bizarro
sacerdote a estudar Direito Canónico na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma
Assumir como documento próprio, utilizá-lo como fonte para um seu documento, ou em última análise não o considerar de todo. Mas penso que podemos excluir esta hipótese. Não podendo fazer um estudo exaustivo, deixo aqui algumas reflexões!
Composto por três partes que têm como títulos as passagens do episódio dos discípulos de Emaús, levam-nos à centralidade da reflexão efetuada neste último mês.
Na primeira parte somos convidados a ouvir com empatia na certeza de que vivemos num mundo plural onde imperam diversidades de contextos sociais e culturais.
No seu nº 57 podemos ler: «Os jovens pedem que a Igreja brilhe pela autenticidade, exemplaridade, competência, corresponsabilidade e solidez cultural. Às vezes, esse pedido soa como uma crítica, mas muitas vezes assume a forma positiva de um compromisso pessoal com uma comunidade fraterna, acolhedora, alegre e profeticamente comprometida para combater a injustiça social. Entre as expectativas dos jovens destaca-se, em particular, o desejo de que na Igreja seja adotado um estilo de diálogo menos paternalista e mais franco.»
Como nos dizia o Sr. D. Joaquim «os jovens pedem à Igreja um testemunho de vida, que vá contra os atuais escândalos, e que esse testemunho aponte para uma credibilidade de vida. Esta mesma opinião foi reforçada pelo testemunho dado pelo Sr. D. Virgílio.
Na segunda parte, com o título «abriram-se-lhes os olhos» é-nos dado uma visão da juventude como dom de Deus movida pelo espírito.
«Os jovens são portadores de uma inquietação que deve antes de mais ser aceite, respeitada e acompanhada, apostando com convicção na sua liberdade e responsabilidade. A Igreja sabe por experiência que sua contribuição é fundamental para sua renovação. Os jovens, em alguns aspetos, podem estar à frente dos pastores. Na manhã de Páscoa, o jovem discípulo Amado chegou primeiro ao túmulo, precedendo na sua corrida a Pedro, envelhecido pela traição e pela idade (cf. Jo 20, 1-10); Da mesma forma, na comunidade cristã, o dinamismo juvenil é uma energia renovadora para a Igreja, porque ajuda a sacudir o peso e a lentidão e a abrir-se ao Ressuscitado. Ao mesmo tempo, a atitude do Discípulo Amato indica que é importante permanecer conectado com a experiência dos idosos, reconhecer o papel dos pastores e não avançar por conta própria. Assim teremos aquela sinfonia de vozes que é o fruto do Espírito.» (nº 66).
São também chamados à liberdade que se quer responsável, relacionada com a fé, liberdade ferida e redimida pelo perdão.
Neste ponto são apresentadas as várias possibilidades vocacionais, não como algo desencarnado da vida dos jovens mas como algo que deve ser e fazer parte integrante do processo normal do crescimento. Como tal os movimentos, paróquias, catequese devem ser locais de acompanhamento tanto de grupo como pessoal. Este acompanhamento deve levar ao discernimento vocacional. Aqui vocacional não se limita a uma vocação religiosa ou sacerdotal, mas acima de tudo a uma vocação batismal, que conduz à verdadeira felicidade e realização pessoal. Porque discernir é deixar que Deus nos fale ao coração. Porque «o discernimento chama a atenção para o que acontece no coração de cada homem e mulher» (nº 106).
Na terceira e última parte, com o título «partiram sem demora» surge um claro convite à missão. Foi também nesta parte que durante as votações surgiram o maior número de non placet (votações negativas). Segundo a acidigital.com «embora todos os pontos obtiveram os dos dois terços dos votos necessários para a inclusão no documento final (ou seja, pelo menos 166 votos), alguns contaram com maior oposição.
É o caso do ponto 150, que fala dos caminhos de acompanhamento na fé das pessoas homossexuais, e que obteve 65 votos em contra e 178 a favor.
Outros pontos que tiveram um número expressivo de votos contrários foram o numeral 148 que versava sobre “a mulher na Igreja sinodal” (38 votos contra), o numeral 121 sobre “a forma sinodal da igreja” (51 votos em contra), o 39 sobre “as perguntas dos jovens” (43 votos em contra) ou o ponto 3, cujo título é “o documento final da assembleia sinodal” (que recebeu 43 votos contra sua inclusão no texto entregue ao Santo Padre).».
Em boa verdade este não foi um sínodo para abordar questões morais, não só a questão da homossexualidade mas os pontos 37 a 39 também tiveram grande resistência. Quanto ao nº 150 pode ler-se: «as pessoas são ajudadas a ler sua própria história; aderir livremente e responsavelmente ao seu batismo; reconhecer o desejo de pertencer e contribuir para a vida da comunidade; para discernir as melhores formas de realizá-lo. Desta forma, ajudamos todos os jovens, ninguém excluído, a integrar cada vez mais a dimensão sexual na sua personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando para o dom de si»; a visão eclesiológica do papel da mulher (nº 148), mas afirma: «Uma área de particular importância a este respeito é a presença das mulheres nos corpos eclesiais em todos os níveis, também em funções de responsabilidade, e de participação feminina nos processos de tomada de decisões eclesiais, respeitando o papel do ministério ordenado.»; ou mesmo a questão sinodal (nº121) que me parece ter por detrás a questão do primado de Pedro.
Compreende-se não terem querido avançar mais sobre estes temas. Uma futura reflexão sinodal? Quem sabe? Aguardamos a resposta do Santo Padre a estas interpelações.