Um concerto grandioso na Casa da Musica

No dia 13 de dezembro, às 19h30, a casa da Música anuncia um notável concerto de celebração do Natal: a Oratória de Natal, da Johann Sebastian Bach (1685-1750).

Por M. Correia Fernandes

A novidade está em que se reúnem o Coro do Conservatório de Música do Porto, o Coro da Sé Catedral do Porto, o Coro Polifónico da Lapa, o Ensemble Vocal Pro Musica, com a Orquestra do Conservatório de Música do Porto e os solistas Carla Caramujo, soprano, Patrícia Quinta, mezzosoprano, Fernando Guimarães, tenor e Nuno Dias, baixo, sob a direção do maestro Martin Lutz.

A Oratória de Natal (n.º de catálogo BWV 248 de Bach) é constituída por um conjunto de seis partes ou seis cantatas, escritas cada uma para celebrar um dia das festas principais do período de Natal. Modernamente, a obra é considerada e geralmente apresentada como um todo, ou dividida em duas partes iguais, dada a sua extensão. A duração total da obra é aproximadamente três horas. De modo similar aos outros oratórios, como as Paixões, um tenor Evangelista narra a história, introduzida pela orquestra e coro, e comentada depois nas intervenções meditativas dos solistas ou também do coro. A primeira parte da oratória (para o dia de Natal) descreve o Nascimento de Jesus; a segunda (para o dia 26 de dezembro), a manifestação ao Pastores; a terceira (para 27 de dezembro), a Adoração dos Pastores; a quarta (para o Dia de Ano Novo), a Circuncisão de Jesus, então festa do dia 1 de janeiro; a quinta (para o domingo após o Ano Novo), a Jornada dos Reis Magos, e a sexta (para a Epifania), a Adoração dos Reis Magos.

A Casa da Música tem apresentado muitas obras mestras da história de música, incluindo obras corais sinfónicas, apresentadas com a mestria do seu conjunto vocal e instrumental. Mas é digna de especial saudação esta iniciativa, com que o Conservatório de Música do Porto encerra as comemorações do seu centenário: associando quatro dos melhores coros da cidade, com solistas portugueses de reconhecido mérito, e a Orquestra do Conservatório, sob a direção de Martin Lutz, apresentando uma obra emblemática da História de Música, em torno de uma quadra do ano especialmente rica em expressões musicais populares e eruditas.

Quanto aos intérpretes, recorda-se que o maestro Martin Lutz esteve já em Portugal, onde dirigiu uma segunda apresentação do “Requiem à memória do Infante D Henrique”, do Cónego Ferreira dos Santos (inicialmente escrito para o centenário do Infante D. Henrique e apresentado no Mosteiro da Batalha em 1994), interpretado na Basílica da Santíssima Trindade em Fátima, em 28 de março do ano 2010 e depois na igreja nova do Candal, Vila Nova de Gaia (29 de março), na Casa das Artes em Famalicão (30 de março) e na igreja da Lapa 31 de março), pelo grupo de sua fundação Schiersteiner Kantorei, com a orquestra Bach-Ensemble Wiesbaden, com os solistas Heidrun Kordes (soprano) Berthold Possemeyer (barítono).

O acontecimento surgiu neste quadro: Martin Lutz, depois de ouvir a gravação da obra, decidiu dirigi-la na sua região da Alemanha. O concerto realizou-se no dia 21 de novembro de 2009, em Wiesbaden, cidade nas margens do Reno, a oeste de Frankfurt, dirigindo o coral Schiersteiner Kantorei e a orquestra Bach-Ensemble. Recordou Ferreira dos Santos que “Foi um acontecimento espantoso, um concerto para uma plateia de 2500 pessoas, que correu muito bem e que contou com boas críticas na imprensa da região, como no conceituado jornal diário Frankfurt Allgemeine”. O mesmo se poderá dizer da apresentação em Portugal desta obra, considerada o primeiro Requiem coral sinfónico sobre texto em língua portuguesa. Notável foi também a capacidade de um coro de intérpretes alemães ter cantado com garbo esta obra em português.

Foi o próprio Martin Lutz que propôs ao autor que o mesmo concerto fosse apresentado em Portugal, garantindo, da parte alemã, o apoio do Goethe Institut, projeto que se concretizou nas datas atrás referidas, na semana que antecedeu a Páscoa desse ano. Este enquadramento histórico leva-nos a saudar a presença de novo entre nós do maestro Martin Lutz, agora num enquadramento diferente, mas onde certamente a presença da Oratória do Natal de Bach se vai sentir à vontade e valorizada pela grandiosidade da apresentação.