Por Joaquim Armindo
Recordo que, num encontro em Fátima, organizado pelas Obras Missionárias Pontifícias, ouvi um testemunho de um missionário leigo, espanhol, sobre a sua missão na Amazónia. A sua preocupação essencial era de que para levar o Evangelho de Jesus às populações, seria necessário salvar a Amazónia, o Planeta e o Universo, da invasão aterradora que o género humano tinha decidido fazer, reduzindo a cinzas os quereres de Deus, que criou. Aliás, tudo quanto dizia vinha na sequência da encíclica do papa Francisco Laudato Si`, tal mal conhecida pelas cristãs e cristãos, mas melhor conhecida por aqueles que se confessam ateus e agnósticos. O que diga-se – como tenho aqui vindo já a escrever-, é uma salutar lição para todos nós. Francisco viria mesmo a criar o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cuja missão é a justiça e a paz, as migrações, saúde, caridade e cuidado da criação. Não conheço – mas pode existir! – em Portugal qualquer organismo da Igreja com estas caraterísticas, nomeadamente o “cuidado da criação”.
Passa pela missão e missionários, neste mês em que lembramos “as missões”, e damos início ao ano missionário, lembrar que o Evangelho também é “cuidar da criação”, tal qual o diz no mito de origem inserto no livro do Génesis, (capítulo 1), num poema belíssimo. Todos missionários e sempre em missão, também significa esta defesa da Criação, esta defesa do desenvolvimento humano integral, com sustentabilidade nas ecologias económica, ambiental, social e cultural, como muito bem explica o papa Francisco na sua encíclica. “Ecologia” como uma relação entre os seres vivos e até não vivos, os abióticos (Houaiss et al, 2015, pp 1502).
Se a Missão de Jesus tem uma Igreja, esta deverá refletir a Missão em todas as suas atuações, e, sobretudo, neste cuidado com a Criação. Não para a abafar, mas sim como presença que eleva o espírito. Ver o céu, o pôr-do-sol, os insetos, os outros animais e a espetacular arte de uma aranha que constrói a sua teia, não é desperdício mas um louvar o Senhor, que tudo isto criou.
Cuidar da criação é missão, como o é a rejeição que os seres humanos sejam rejeitados de tantas formas. Como o sem-abrigo, mais um, que morreu nos Poveiros.