A oração universal ou oração dos fiéis

A “restauração” da oração dos fiéis foi uma das mais significativas reformas litúrgicas do Vaticano II (SC 53): ao mesmo tempo que assinalou um regresso às fontes da tradição litúrgica, representou um avanço decisivo na teologia do sacerdócio comum de todos os batizados. Trata-se, com efeito, de um sacerdócio real, com uma efetiva expressão litúrgica, que se traduz no facto de toda a assembleia – e não apenas os ministros ordenados – ser sujeito orante exercendo por si o múnus sacerdotal de uma intercessão explícita pelas necessidades da Igreja e do Mundo.

Em 1966, o Conselho criado por São Paulo VI para a aplicação da reforma litúrgica decretada pelo Concílio publicou um Diretório Prático com o objetivo de ajudar as Conferências Episcopais nesta matéria. Pode ler-se a sua parte principal no «Proémio» das várias edições do Secretariado Nacional de Liturgia com o título A Oração Universal (oração dos fiéis) (Cf., também, Enquirídio dos documentos da reforma litúrgica [= EDREL], 2ª ed., nn. 453-475). A Instrução Geral do Missal Romano assumiu estas orientações em normas claras (nn. 69-71). Veja-se, também, a síntese dos Preliminares do Leccionário (nn. 30-31).

Felizmente, dispomos em Portugal de bons subsídios nesta matéria. Os volumes editados pelo SNL, não tendo caráter oficial, tornaram-se quase «oficiosos». Mas não excluem nem nunca pretenderam excluir  a «judiciosa» ou «sábia» liberdade» de compor outros textos adequados para a formulação destas preces. E é natural e desejável que, por ocasião de campanhas específicas da atualidade eclesial – pensemos no Ano Missionário ou na Semana dos Seminários – apareçam outras propostas a enriquecer e dar variedade à oração da Igreja. Liberdade até há! Mas, a avaliar por alguns espécimes que nos chegam, nem sempre têm a qualidade de juízo e sabedoria de que falam os documentos do Magistério. Falta formação litúrgica! Parece-nos, pois, oportuno recordar aqui as três características que singularizam a “oração universal:

a) É uma oração de súplica e intercessão dirigida a Deus. Consequentemente não é este o lugar adequado para efusões líricas, exortações morais ou discursos didáticos. Tão pouco é este o momento certo para manifestações de louvor, ação de graças ou adoração. Esses dinamismos da oração já têm o seu lugar assegurado na celebração eucarística. E a homilia já passou! Instruído, movido e renovado pela Palavra de Deus, o povo de Deus exerce o seu sacerdócio assumindo-se diante do Pai como intercessor e advogado das causas da Igreja e do Mundo.

b) Pede, sobretudo, benefícios universais. Está prevista e é louvável a oração pelos fiéis reunidos. Contudo, os beneficiários principais e preferenciais destas preces são, segundo uma hierarquia de intenções que não é facultativa: a) a Igreja universal, b) as autoridades civis e a salvação do Mundo, c) os que sofrem diversas necessidades, d) a comunidade local. Em situações especiais a ordem das intenções é suscetível de adaptação (IGMR 70).

c) Compete ao povo fiel – todos os batizados – como tal. Por isso a introdução do Presidente é dirigida à assembleia – e nunca a Deus (diferentemente das Preces da Liturgia das Horas) – convidando-a à oração; e é a assembleia – e não o ministro – quem ora a Deus (“Ouvi-nos, Senhor!”…). O ministro, como tal, não ora, mas apenas se limita a enunciar aos seus irmãos, com breves palavras, as necessidades pelas quais vão orar, os benefícios que vão pedir, os beneficiários da sua intercessão… Esta é uma característica que claramente distingue a oração dos fiéis da Missa, das Preces da Liturgia das Horas. Tradicionalmente, o “ministro” é o diácono;  mas as normas vigentes preveem que possa ser um leigo (cantor, leitor ou outro fiel) que, efetivamente, está ao serviço da assembleia e cujo protagonismo convém não exagerar.

Compete ao ministro ordenado que preside à assembleia dos fiéis e dela faz parte: convidar e introduzir à oração, responder com os demais fiéis às intenções propostas e encerrar as preces com uma oração conclusiva na qual se recomendam a Deus as súplicas da assembleia orante.