Fica bem a um santo ser revolucionário?
Se olharmos a etimologia da palavra, parece que não. É verdade que a «revolução» de forma geral, goza de boa fama: mudar rapidamente as coisas. Mas, na sua origem, o prefixo «re» significava “voltar para trás”, girar em torno do próprio eixo. Neste sentido, nenhum santo viveu a vida às arrecuas nem se moveu à volta do seu individualismo. Por isso, para os caracterizar, prefiro a palavra «evolução», pois este «e» parece incluir a ideia de dinamismo, ação para diante, abertura do «rolo da vida» que estaria encerrado.
De acordo com esta linha de pensamento, os mais recentes santos da história da Igreja são verdadeiramente «evolucionários». Porque, na sua vida e ação, abriram a Igreja ao futuro e o futuro à Igreja.
A história haveria de colocar o grande, grande Paulo VI como charneira entre duas épocas que quase se não reconheciam, tão diferentes elas se apresentavam. Usando a metáfora da criança, se São João XXIII é o pai do Concílio, foi Paulo VI quem o acolheu desde o mais tenro início de vida, o alimentou, cuidou, robusteceu, educou e inseriu na vida ativa. E muito sofreu por causa deste menino, já que teve de o defender dos dois extremismos que sempre acompanharam o curso da vida da Igreja, mas à sua margem: o pseudo progressismo, que tem tanto de ingénuo como de estúpido, e o conservadorismo pagão que invoca “o santo Nome de Deus em vão” e não menos o da Igreja, a quem pretende colocar ao serviço dos seus interesses inconfessados e inconfessáveis. Por isso, como ajustadamente o caracterizou D. António Ferreira Gomes, foi o Papa “crucificado na cruz do diálogo”.
Óscar Romero torna palpável o que o Papa Francisco diz sobre a Igreja como “hospital de campanha”: ao acolher a todos, os «limpinhos» e os enlameados, gera a animosidade dos que pensam (e dizem…) que “se abre os braços aos meus inimigos, está a rejeitar-me a mim”. Quando não se trata de excluir nenhum, mas de dar abrigo a todos. Curiosamente, aquilo que é reclamado pelo mandamento novo do amor que recebemos do Senhor Jesus é visto por alguns como afronta e provocação. E reagem com a violência que reclama o sangue inocente.
Os santos, os verdadeiros santos, são estes que lançam raízes nas exigências da fé e se recusar arredar pé desse âmbito. Por isso, são empurrados para fora dele, mediante o martírio. Mas ficam eternamente plantados na mente do seu povo como sentinelas da luz da madrugada e indicadores do rumo da verdadeira evolução.
***