Editorial: A Igreja à escuta dos jovens de hoje

Está a decorrer em Roma, neste mês de Outubro, a XV Assembleia geral do Sínodo dos Bispos dedicada ao tema “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Por Jorge Teixeira da Cunha

Segundo o estilo que o Papa Francisco tem imprimido ao governo da Igreja, trata-se mesmo de ouvir as culturas juvenis de hoje e não apenas de produzir directivas para uma acção da Igreja pensadas em abstracto. Que estão vivendo e dizendo os jovens de hoje? Os documentos preparatórios e as primeiras intervenções da reunião estão advertidos para esta dificuldade em escutar a juventude, num mundo global, tendo em conta situações tão diversificadas, de onde se ouvem vozes pouco perceptíveis ou apenas silêncios.

Há, porém, alguns aspectos que o documento de trabalho do Sínodo põe em evidência e de que destacamos a cultura das comunicações e o futuro do trabalho. A juventude de hoje vive imersa no mundo das comunicações instantâneas que lhe marcam profundamente a vida. Esta aspecto configura a cultura de forma decisiva.

A imagem reinventada continuamente, a palavra tribalizada, o grupo espontâneo proporcionam uma original forma de apreensão do mundo. Este não se apresenta já como uma narrativa estável, como uma tradição consolidada, mas como uma sucessão de vivências que originam palavras novas e narrativas voláteis. Por outro lado, a estruturação social na era tecnológica levanta novas questões. Uma delas é a organização do trabalho humano e o futuro da justiça social.

A tecnologia está a substituir o esforço da produção e a mudar o conceito de trabalho. Isto é bom, por um lado, mas coloca o problema da distribuição da riqueza. A instituição educativa e a política terão de se pensar de novo. Os jovens de hoje estão já a viver neste turbilhão de mudança e isso dá que pensar a todos. Como se vive e se viverá a fé cristã neste universo em mutação? Esse é o problema. O cristianismo sempre se adaptou à novidades do mundo. As velhas representações da fé vão sofrer grandes abalos neste mundo em mutação.

A liturgia e a catequese terão de se pensar de novo, as instituições eclesiais, como o sacerdócio e o ministério serão diferentes quando os jovens de hoje forem os adultos de amanhã. Como o mundo se vai pensar em termos de justiça, de liberdade e de direito é o que verão os que cá estiverem. Vai ser necessário configurar a sociedade para lá do populismo e mesmo do fanatismo e estruturá-la na base da liberdade religiosa.

Apesar do velho preconceito que desconfia do mundo de amanhã, o Papa Francisco confia nos na juventude. Amanhã, como no passado, Cristo e o seu evangelho serão significantes para os que hoje são jovens e amanhã serão adultos. Eles e elas serão os cidadãos e os ministros da Igreja. Ouvir os novos é imprescindível e passar-lhes o testemunho de um mundo credível e de uma tradição eclesial é tarefa dos adultos de hoje. Mas o Inverno que a Igreja está a passar anuncia algum sofrimento até à chegada de uma nova Primavera.