Mensagem: A Igreja de sempre e a liturgia de sempre

Foto: Luís Lopes Rodrigues

Mercê da competitividade a que nos sujeitam e do modelo de economia que nos impõem, o homem contemporâneo relaciona-se melhor com os números e as siglas do que com os símbolos e as grandes metáforas do sentido. Não obstante, não são os primeiros que lhe «enchem a alma». Como tal, perante a aridez que a cultura atual denota neste particular, é bem visível a busca de significados para a existência mediante a ritualização e a redescoberta das raízes identificadoras da memória histórica.

A liturgia cristã insere-se neste âmbito. Por isso, bem cedo cortou com o «funcionalismo» cultual do templo de Jerusalém: percebeu que o culto que «agrada a Deus» é, simultaneamente, tornar presente e aceder ou inserir-se no acontecimento salvífico da Páscoa do Senhor Jesus e de quanto Ele realizou “por nós homens e para nossa salvação”.

Porém, por razões históricas aceitáveis, gradualmente, o culto deixou de ser “ação comum do povo cristão” e converteu-se em ação rotineira ou de «cerimónias» confiadas exclusivamente ao clero. Mas o Concílio Vaticano II «refontalizou» esta verdade histórica, que lhe vinha dos primórdios, e restituiu à comunidade não só a capacidade de «participar», mas até a de se constituir o verdadeiro sujeito da liturgia, detentora da unidade e diversidade das tarefas.

Fê-lo por intermédio de uma profunda reflexão teológica e, visivelmente, pela introdução das línguas habituais e pela redescoberta dos serviços a exercer: leitores, acólitos, grupos corais, monitores da assembleia, especialistas em arte e beleza, etc. E muito, muito caminho se percorreu desde então para cá. Embora também haja quem nada tivesse compreendido e seguisse pelas vias do maior atropelo ao espírito da liturgia.

A realização do primeiro encontro diocesano de acólitos constituiu a expressão da beleza e da vitalidade de uma Igreja que segue pelas vias conciliares. Exprime a compreensão teológica do dado da grande tradição católica, a verdadeira e autenticamente simbólico-espiritual, que alimentou a santidade de milhões e milhões de crentes. E não apenas a «pequena tradição» que se fixa no século XVI como se ele constituísse a totalidade ou o melhor da nossa história.

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