Editorial: Um dinamismo novo da comunicação social

O mundo moderno sofreu e sofre transformações inesperadas, de tecnologia e sobretudo de mentalidade. Não precisamos de ir muitas décadas atrás para o sentirmos hoje.

Editorial

Por M. Correia Fernandes

Vivemos nos nossos dias de emoções e reações rápidas e superficiais. Substituímos o diálogo entre as pessoas presentes por conversas de máquinas interpostas. Um fenómeno frequente é o de observarmos uma mesa de gente de telemóvel na mão, ausentes mentalmente e espiritualmente na sua presença física. E que procuram os jovens na rede? Segundo um estudo apresentado na semana passada em Fátima (será que Fátima continua a ter a mesma força de atração de anos anteriores?), os interesses que especialmente centralizam os jovens na rede são o entretenimento (videojogos, humor, diversão) as marcas e os eventos desportivos, a informação de caráter geral, o conhecimento e reconhecimento dos seus pares.

Há também, felizmente, interesses nos domínios das cultura e da arte em temas de educação e universitários. Tudo depende dos agentes ou intervenientes. Um dado a ter em conta e que nos pode surpreender é que os jovens interessados em religião se encontram em países como a Itália, a Polónia, a França e a Alemanha. São dados de um estudo mundial disponível no site “social listening”. Entre as figuras referenciadas, além das que são objeto de divulgação mais frequente, como desportistas, ou gentes do mundo do espetáculo, atreitas ao escândalo, surgem fi guras como Martin Luter King ou Nelson Mandela como referências.

Curiosamente uma das fi guras mais referidas é o Papa Francisco, referenciado maioritariamente mesmo entre os que não se afirmam crentes. Entre as conclusões que se podem retirar destes estudos é que os tempos atuais mostram uma sociedade de modelos contraditórios e de influências múltiplas e controversas. Lado a lado surgem homens e mulheres de ideais, fi guras da correnteza da vida e gentes do mundos da transgressão e do crime.

Outra dimensão é a da mentira, do engano e do equívoco. Constata-se que as informações falsas ou mal intencionadas se difundem com maior aceitação e rapidez do que as notícias verdadeiras ou favoráveis. Soube-se que uma cientista portuguesa (e trabalhando do Porto) foi reconhecida pela revista científica “The Pathologist” como “a patologista mais influente do mundo”.

Há sempre ângulos de visão discutíveis para avaliações como esta, mas a notícia não mereceu especial realce nem nas parangonas da televisão nem nas redes sociais. O mesmo sucede com notícias do mundo da ciência, dos grandes projetos sociais, das grandes dimensões da generosidade, ou da ação social das organizações humanitárias, e menos das nascidas de impulso religioso.

Confrontando as condicionantes dos grandes canais de informação, sempre ideológicos e intencionalmente controlados, as redes sociais são lugares de aparente maior liberdade, mas igualmente condicionados, consciente ou inconscientemente, pela ideologia e pelos interesses dominantes. Nelas não há autoridade, mas importa que haja criatividade, generosidade e dinâmica de espírito novo.