14 de outubro de 2018
Leitura do Livro da Sabedoria Sab 7, 7-11
«Considerei a riqueza como nada, em comparação com a sabedoria»
Salmo Responsorial Salmo 89 (90)
Saciai-nos, Senhor, com a vossa bondade e exultaremos de alegria.
Leitura da Epístola aos Hebreus Hebr 4, 12-13
«A palavra de Deus é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração»
Aclamação ao Evangelho Mt 5, 3
Aleluia.
Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 10, 17-30
«Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?»
«Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me».
Leitura do Livro da Sabedoria Sab 7, 7-11
Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos ceptros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia e, comparada com ela, a prata é considera¬da como lodo. Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz, porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inume¬ráveis.
Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial Salmo 89 (90)
Refrão: Saciai-nos, Senhor, com a vossa bondade
e exultaremos de alegria. Repete-se
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando?
Tende piedade dos vossos servos. Refrão
Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Compensai em alegria os dias de aflição,
os anos em que sentimos a desgraça. Refrão
Manifestai a vossa obra aos vossos servos
e aos seus filhos a vossa majestade.
Desça sobre nós a graça do Senhor.
Confirmai em nosso favor a obra das nossas mãos. Refrão
Leitura da Epístola aos Hebreus Hebr 4, 12-13
A palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a ela que devemos prestar contas.
Palavra do Senhor.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 10, 17-30 – Forma breve
Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e perguntou-Lhe: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível».
Palavra da salvação.
VIVER A PALAVRA
No mais íntimo do coração de cada homem e de cada mulher, reside o desejo de uma felicidade profunda e duradoura, uma felicidade que tenha sabor de eternidade e que nos ofereça a verdadeira alegria, aquela que não desvanece com o tempo e as dificuldades, mas que permanece como certeza de que a nossa vida está nas mãos de Deus, verdadeira fonte de alegria e salvação. Marcado por este desejo de felicidade, aparece no relato evangélico deste Domingo um homem de coração bom, que procura viver os mandamentos desde a sua juventude e que corre ao encontro de Jesus para satisfazer a inquietação que habitava o seu coração: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?».
Este coração inquieto, que tantas vezes nos habita, é aquele de que fala S. Agostinho e que não se satisfaz com nada menos do que Deus e, por isso, se deve tornar um coração que ama para que satisfaça essa inquietação. Mas, como recorda o papa Bento XVI, não somos só nós que vivemos inquietos relativamente a Deus. Também o coração de Deus vive inquieto relativamente ao homem, por isso, Deus espera-nos e anda à nossa procura. Também Ele não descansa enquanto não nos tiver encontrado. O coração de Deus vive inquieto e foi, por isso, que se pôs a caminho até junto de nós: até Belém, até ao Calvário, de Jerusalém até à Galileia e aos confins do mundo. Deus vive inquieto connosco, anda à procura de pessoas que se deixem contagiar por esta sua inquietação, pela sua paixão por nós. Por isso, Jesus saiu de casa em Mc 10,10 e está a caminho com os seus discípulos, para os formar na escola da arte de amar. Ao longo deste caminho, paradigma do grande encontro de Deus com a humanidade, Jesus encontra-se com tantos homens e mulheres concretos a quem dirige a Sua Palavra. Por isso, ser cristão é, em primeiro lugar, encontrar-se com Jesus que continua a fazer-Se presente na palavra que nos dirige, Palavra que é «viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração».
Seguir Jesus, acolher a sua proposta radical não pode ser apenas o cumprimento de um conjunto de normas ainda que boas e justas. Ele pratica os mandamentos, mas àquele homem rico, diz Jesus, falta apenas uma coisa. Este «apenas» pode parecer pouco, mas é um conjunto de cinco imperativos exigentes e radicais: vai, vende, dá, vem e segue-me. A Palavra de Deus não permite descontos nem reduções, pois o convite de Jesus não está a saldo. Jesus vendo aquele homem retirar-se contristado poderia dizer-lhe: «não consegues vender tudo, vende metade» ou então «começa com aquilo que não te faz falta». Não! Jesus mantém a Sua proposta para nos ensinar que segui-Lo implica uma relação absolutamente nova com os bens materiais para que se promova um modo novo de nos relacionarmos com Deus e com os outros. É necessário perder o que se possui para viver do que nos é oferecido como dom. É necessário dar espaço à salvação que é sempre impossível para nós, porque dom imerecido e implica o doloroso reconhecimento de um vazio e de uma ferida que abre caminho à obra misericordiosa de Deus. Por isso, devemos invocar em cada dia com as palavras do Salmo Responsorial: «ensinai-nos a contar os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração».
Homiliário patrístico
São Clemente de Alexandria
Livro sobre a salvação dos ricos
«Se queres ser perfeito!». Portanto, ainda não era perfeito. Além disso, aquele «se queres» expressa de maneira divina e contundente a livre faculdade de escolha do seu interlocutor. Efectivamente, no homem – na sua qualidade de ser livre – reside a livre escolha da vontade; em Deus – na sua qualidade de Senhor e juiz – reside a capacidade de dar. E dá aos que querem, rezam e com maior empenho se esforçam por alcançar a própria salvação. Pois, Deus não coage – a coacção é, de fato, inimiga de Deus –, mas dá aos que buscam, concede aos que pedem, abre aos que chamam. Por conseguinte, se queres, se verdadeiramente queres e não te enganas a ti mesmo, procura o que te falta.
Uma coisa te falta: o que te resta por fazer e que é bom, mas está à margem da lei, porque a lei não o dá, porque não se encaixa dentro da lei e é próprio dos possuidores da verdadeira vida.
O mesmo que o Senhor disse para Marta quando, cansada em muitas tarefas, andava inquieta e nervosa para dar conta do serviço, e censurava de negligente a sua irmã, que, deixando o serviço, sentada aos pés do Senhor, oferecia a atenção de uma discípula: «andas inquieta com tantas coisas; Maria escolheu a melhor parte, e não lhe será tirada»; assim também a este (discípulo): manda-lhe que, pondo de parte toda a enervante inquietação, se concentre numa só coisa e se sente aos pés da graça daquele que pessoalmente lhe propõe a vida eterna.
Sugestões litúrgico-pastorais
1. O texto evangélico sublinha uma dimensão importante da nossa vida cristã: a relação com os bens materiais e a sua utilização. Esta relação é muito delicada na nossa vida de fé e é uma tentação muito concreta e real no nosso quotidiano. Diante de um contexto sociocultural marcado pelo consumismo e materialismo, onde o dinheiro e os bens se tornaram um fim e não um meio, importa propor ao jeito de Jesus uma sadia relação com os bens, para que desistindo de procurar neles a nossa segurança, possamos fazer deles instrumentos de relação, evitando que eles possuam o nosso coração e se tornem, como no relato evangélico, um impedimento no seguimento de Jesus. Finalmente, é importante recordar que esta advertência de Jesus não é apenas para quem possui muitos bens, pois como dizia S. João da Cruz: «não importa se o pássaro está ligado à terra com um leves fios de seda ou com corda grossa. Em qualquer dos casos não é livre nem consegue voar».
2. Para os leitores: a primeira leitura do Livro da Sabedoria é um texto de estilo poético, pelo que a sua proclamação deve respeitar este estilo literário para uma melhor transmissão da mensagem. A segunda leitura da Epístola aos Hebreus, apesar de parecer um texto de fácil proclamação, exige uma adequada preparação e um especial cuidado na primeira frase que é longa e possui várias orações.
Sugestões de cânticos
Entrada: Se tiveres em conta as nossas faltas – F. Lapa (BML 140); Salmo Responsorial: Enchei-nos da vossa misericórdia, será ela a nossa alegria (Sl 89) – M. Luís (SRML, p. 250-251); Aclamação ao Evangelho: Aleluia – F. Santos (Guião 2012 – XXXVIII ENPL); Ofertório: Os ricos empobrecem – C. Silva (CEC II p. 127); Comunhão: Vai vender o que tens – A. Cartageno (CEC II, p. 128); Final: Exulta de alegria – M. Carneiro (NCT 740).