Congresso de Música no Vaticano: “Compositores e Igreja, Palavra e Sons”

Por iniciativa do Pontifício Conselho para a Cultura realizou-se em Roma, de 13 a 15 de setembro, nas instalações da LUMSA (Libera Università Maria SS. Assunta) o congresso “Compositores e Igreja, Palavra e Sons”. Durante três dias os cerca de 130 participantes (10 deles portugueses) tiveram a oportunidade de ouvir as intervenções de 24 reputadas personalidades do mundo musical e eclesial as quais abordaram diferentes aspetos da temática proposta.

Relevem-se, de forma sumária, as comunicações do cardeal italiano Gianfranco Ravasi (que a partir de Deuteronómio 4, 12 teceu uma belíssima consideração sobre a palavra, o ritmo, o som e o silêncio), do compositor inglês John Rutter (focando a importância da composição e dos compositores para a comunidade cristã hodierna), do compositor italiano Monsenhor Marco Frisina, responsável pelo coro da diocese de Roma (chamando a atenção para a Bíblia como fonte do texto a usar preferencialmente na liturgia), do musicólogo norte-americano Thomas Kelly, professor em Harvard (que se referiu ao rigor e à autenticidade na leitura de uma partitura), do italiano Monsenhor Vincenzo de Gregorio, Presidente do Pontifício Instituto de Música Sacra (ressaltando a importância do canto gregoriano, da formação musical e do conhecimento das especificidades da liturgia), da maestrina portuguesa Joana Carneiro (abordando de forma eloquente a música contemporânea nomeadamente quanto ao uso da tonalidade/modalidade, dando a ouvir e a ver partituras de compositores como Olivier Messiaen, John Adams, Sofia Gubaidolina ou James MacMillan), da também maestrina italiana Gianna Fratta (falando da importância da diversidade tímbrica, da interpretação, da relação texto/situação/tempo e da consciência que nunca deverá ser esquecida de que os membros do coro ou da orquestra são, em primeiro lugar, pessoas com todas as suas circunstâncias a quem é preciso dar a atenção devida), do inglês Simon Johnson, organista da catedral londrina de São Paulo (com uma belíssima apologia do órgão de tubos e da essencialidade da música na liturgia) ou do monge beneditino senegalês P. Olivier Sarr (dando a conhecer algumas experiências com o canto gregoriano e a utilização da kora, um instrumento de cordas local). Refira-se ainda que houve espaço para o debate e para a apresentação de realidades musicais de grupos eclesiais muito específicos tais como “Comunhão e Libertação”, “Focolares”, “Renovamento carismático” ou “Verbum Dei”.

O congresso, superiormente organizado pelo bispo português D. Carlos Azevedo, Delegado do Pontifício Conselho para a Cultura, teve ainda dois belos momentos: em primeiro lugar, a oração de Vésperas na memória de São João Crisóstomo, rezadas na capela Sistina, presididas por D. Paul Gallagher, secretário de Estado para as relações com os Estados e cantadas pelo Coro da Capela Musical Pontifícia (vulgo Coro da Capela Sistina) com direção do Monsenhor Massimo Palombella e que no final da oração ofereceram um pequeno concerto. Em segundo lugar e em jeito de encerramento, o magnífico concerto na Basílica Superior de S. Francisco, em Assis, pelo St. Jacobs Chamber Choir, coro de Estocolmo dirigido pelo norte-americano Gary Graden. Entre as pinturas de Giotto, a música contemporânea de Ligeti, Elgar, Agneta Skold e Schoenberg.

Joaquim Marçal