Walter Osswald vai ser condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito da Instrução Pública

Foto: Rui Saraiva

No dia em que completou 90 anos, 20 de setembro, o Prof. Walter Osswald foi informado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, desta decisão de reconhecimento do seu mérito e da sua dedicação à causa pública no âmbito da instrução e da educação.

Por Rui Saraiva e M. Correia Fernandes

Esta decisão foi comunicada através de uma vídeo-mensagem do senhor Presidente da República e recebida em ambiente de festa e celebração no final de uma Eucaristia de Ação de Graças pelos 90 anos de vida do Prof. Walter Osswald que decorreu no Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa.

O Auditório Carvalho Guerra foi pequeno para acolher amigos, colegas e familiares do Prof. Walter Osswald que quiseram estar presentes neste significativo momento da sua longa e intensa vida. A vida que sempre o fascinou, tal como referiu D. António Augusto Azevedo, bispo auxiliar do Porto, que presidiu à Eucaristia e que na sua homilia, sublinhou o “fascínio pela vida” que sempre demonstrou Walter Osswald. “Refletir sobre as questões da vida” foi sempre uma preocupação presente no percurso académico e humano do Prof. Walter Osswald – assinalou D. António Augusto.

Walter Osswald, tem nome alemão mas nasceu no Porto a 20 de setembro de de 1928. Nesta cidade e na sua Faculdade de Medicina se licenciou e se doutorou em 1958 e se tornou professor catedrático em 1972. As suas áreas de estudo e investigação passam pelo sistema cardiovascular, pelos ensaios clínicos e sobretudo pela Bioética (ética médica e ética da experimentação).

É nesta área que criou e foi o primeiro Diretor do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa e foi Presidente do Gabinete de Investigação em Bioética da Universidade Católica. Foi Professor visitante em várias Universidades e recebeu doutoramento “honoris causa” pela Universidade de Coimbra e mereceu a condecoração nacional com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago de Espada.

É autor de numerosos livros e artigos no âmbito das matérias das suas especialidades, que também passam por temas de caráter filosófico e humanista. Lembremos “Bioética simples” (com Maria do Céu Patrão Neves) (2.ª ed. 2014); “Da Vida à Morte – Horizontes da Bioética” (2014), apresentando as grandes questões resultantes dos notáveis progressos modernos da técnica e da ciência, mormente no domínio da biomedicina, que vão suscitando a uma visão ética e humanista da pessoa; “Sobre a morte e o morrer” (2013), antecipando um debate mais recente, abordando temas como os cuidados paliativos, a dor, perda e sofrimento, o testamento vital, o suicídio assistido e a eutanásia, a espiritualidade, a fé e as noções da “arte de morrer” e da boa morte.

Mais recentemente publicou “Morrer a pedido – o que pensar da eutanásia” (2016), abordando o tema complexo da eutanásia, uma questão de enorme importância e de debate atual, que exige reflexão e análise, propondo caminhos de reflexão e aproximação para o encontro de uma solução digna e respeitadora da vida e da pessoa. Reveladora da amplidão dos seus horizontes culturalmente alargados, perfila-se a obra “Mosteiros Cistercienses em Portugal – Pequeno roteiro” (2012), procurando divulgar a valorizar a influência que para a cultura e para as nossas raízes históricas têm os mosteiros da ordem de Cister, construídos ao longo dos séculos, de norte a sul do país, de Viana do Castelo a Faro, que são a expressão de religiosidade e saber, com informações que permitem o seu usufruto pleno: história, características, localização e enquadramento, conservação, valor artístico, possibilidades de visita e de estadia.

A obra nasce certamente do facto de o autor escrever em S. Cristóvão de Lafões, espaço que recuperou constitui atualmente propriedade sua, tendo sido recuperados muitos dos seus espaços e promovida também a sua valorização cultural através da realização de colóquios históricos que procuram reavivar os valores legados pelo espírito e ação da Ordem de Cister. Ali se encontram testemunhos do trajeto desta dinâmica espiritual e cultura em espaços conhecidos (como Alcobaça, Tarouca, Lorvão, ou Odivelas) e outros menos conhecidos, como Cástris (Évora) ou Cós (Leiria) ou Almoster.

Seja-nos permitida uma referência especial ao volume “Da Vida à Morte – Horizontes da Bioética”. Nele se assinala que a Bioética se apresenta como “uma última possibilidade de construir uma ética cívica, universal, garante da dignidade e dos direitos da pessoa humana”, bem como advertência para a sua instrumentalização por forças que lhe são estranhas”. Este é um ponto fulcral: cada vez mais estes temas fraturantes são utilizados como formas ou fórmulas de intervenção política, ao sabor de projetos que pretendem sustentar o poder e o domínio à custa do equilíbrio da pessoa e da teia ampla das relações humanas equilibradas e justas.

São muito largos os horizontes abordados neste estudo: o diálogo entre a ética e a medicina, um dos campos mais sensíveis para uma atividade onde o respeito pela pessoa é particularmente sensível; os desafios à vulnerabilidade da investigação (que na sua universalidade não pode ser despida dos valores éticos), o conflito potencial entre as possibilidades e a conveniência humana dos seus usos, dados que se manifestam em muito sectores da ciência e particularmente da biologia e da medicina.

O livro contém ainda uma significativa homenagem a notáveis figuras da Igreja portuguesa e do nosso mundo cultural e científico: o Padre Américo (o seu enorme e sorridente vulto), Luís Archer (prodigioso contributo no panorama intelectual e espiritual do nosso tempo), Joaquim Pinto Machado (profissional competente e dedicado, cidadão livre e responsável), Jorge Biscaia (figura da Bioética e da Pediatria, que se revela na “poética ternura”), José Garrett (um homem de ciência, de família e de fé) e Daniel Serrão (mestre pródigo e incansável), além dos mestres do autor Malafaya (Alberto d’Athaide Malafaya Baptista) e Peter Holtz (sempre desafiante e original).

Significativo é que o livro termine com três páginas de um “Breve elogio do silêncio”, citando Carlyle: “O silêncio é profundo como a eternidade, a fala é baixa como o tempo”. Um apelo do autor ao sentido da meditação, caminho de sabedoria.