É com esta sugestão que a revista francesa de inspiração cristã La Vie dedica o seu número de início do ano escolar ao problema da edução e da escola no universo da França. Lá como cá, como certamente em muitas outras paragens, sente-se hoje, por confronto com o passado, que a educação, genericamente considerada, carece de um aperfeiçoamento formal e institucional.
Por M. Correia Fernandes
O que entre nós se tem escrito sobre o assunto percorre caminhos semelhantes, geralmente mais em termos profissionais e formais (organização curricular, organização e direção das escolas, problemas do pessoal docente e auxiliar, inquietações das famílias). Menos se vê debatido o essencial da questão: que universo mental transmitimos às novas gerações, que ideais, que forças mobilizadoras, que dinâmicas de construção humana pessoal e social. E ao mesmo tempo quais os processos de transmissão desses valores.
Desde há décadas (1999) que o chamado “Relatório Delors”, intitulado sugestivamente “Educação: um tesouro a descobrir”, fruto de muitas colaborações de especialistas, definia como pilares da educação quatro dimensões: aprender a conhecer (adquirir de forma completa o conhecimento e a compreensão da realidade), aprender a fazer (interagir sobre o meio envolvente, dando ação prática aos conhecimentos), aprender a viver juntos (busca do sentido da cooperação e da convivência nas atividades humanas), e aprender a ser (conceito envolvente que integra todos os anteriores e que acaba por definir a personalidade do indivíduo). Os sistemas educativos e as regras de orientação política têm-se voltado especialmente para o primeiro (o império dos conhecimentos) e mais recentemente para o segundo, o das funcionalidades. Tem-se descurado muito a terceira e sobretudo a quarta dimensão: viver juntos e adquirir valores firmes de personalidade e convivência.
Um dos problemas mais evidenciados na análise daquela revista situa-se na formação dos professores (que designa “enseignants” [os que ensinam], colocando o acento mais na ação do que na profissão). Os problemas educativos entre nós mais discutidos nos últimos tempos situam-se no domínio profissional e menos na funcionalidade das escolas e no valor pedagógico da ação docente. A formação dos professores sofreu nos últimos anos uma evidente degradação. Os aspetos pedagógicos e de ação docente têm sido preteridos em favor das atividades de caráter burocrático, como elaboração de registos, grelhas, fichas, esquemas, e presença em debates e discussões.
O essencial deve ser a relação docente, a presença e o diálogo pedagógico. O excesso de burocracia destrói a ação pedagógica. A disponibilidade do professor para esta deve ter toda a prioridade. Importa pois que se coloque de novo o acento da problemática sobre os professores no sentido desta sua ação pedagógica e educativa, junto dos alunos e em diálogo com a s famílias. Tudo o resto são inúteis resquícios burocráticos paralisantes.