
As forças armadas russas realizaram, nos últimos dias, os maiores exercícios militares da sua história. No exercício participaram cerca de 300.000 soldados de terra, mar e ar, que utilizaram as suas armas mais recentes e sofisticadas.
Por António José da Silva
Foi a demonstração de um enorme poderio bélico que as sanções americanas não conseguiram beliscar, e cujo grande objectivo foi o de mostrar ao mundo, e em particular aos Estados Unidos, que a Rússia pretende continuar a ser uma superpotência que não se pode menosprezar e não se vergará a quaisquer ameaças vindas do Ocidente. De qualquer modo, e para responder antecipadamente a possíveis acusações de sentido contrário, responsáveis pelo ministério russo da Defesa fizeram questão de lembrar que aquele enorme espectáculo militar era apenas um exercício de carácter defensivo…
Há já muitos anos que a maior parte dos governantes, sobretudo dos responsáveis das grandes potências, seguem o velho princípio latino, segundo o qual, “si vis pacem, para belum” ou, traduzido pata português, “se queres a paz, prepara a guerra”.
É um princípio baseado na ideia de que, se o inimigo tem medo de nós, não se atreverá a atacar-nos. Assim sendo,, neste mundo concreto em que vivemos, nenhum responsável pela segurança de um país se dá ao ao luxo de pôr completamente de parte qualquer preocupação com a defesa e a segurança do seu povo, sendo que esta preocupação exige necessariamente preparação militar e armamento. Encarada neste contexto, a Paz seria, pois uma simples consequência do medo.
Mesmo não aceitando este princípio, temos de reconhecer a importância decisiva que o medo assumiu na contenção das duas maiores potências nucleares do mundo, em momentos não muito distantes e que foram particularmente ameaçadores para a Humanidade. Nesses momentos, foi o medo das consequências catastróficas de uma guerra atómica que impediu que qualquer dos seus líderes resistisse ao impulso de carregar no famigerado botão, num gesto que faria regredir, em muitos séculos, a história humana. Como é ainda o medo da utilização por Israel da sua capacidade nuclear que tem aguentado o “status quo” no Médio Oriente.
O problema é que o medo, como factor de contenção, tem a ver quase exclusivamente com a ameaça de uma guerra nuclear. Basta olhar para a multiplicação das guerras locais e regionais a que vamos assistindo com demasiada frequência, para concluir que o medo está longe de chegar para garantir a Paz…