Na proximidade da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, intitulada «os jovens, a fé e o discernimento vocacional», que decorrerá de 3 a 28 de Outubro de 2018, é importante recordar o percurso que as diferentes assembleias sinodais têm realizado ao longo destes mais de cinquenta anos e aprofundar e refl ectir na beleza de um caminho colegial e sinodal que traduz a dimensão constitutiva da Igreja como recordou S. João Crisóstomo ao afirmar que «Igreja e Sínodo são sinónimos».
Por Sérgio Leal *
O Sínodo dos Bispos, instituído a 15 de Setembro de 1965, pelo Motu Próprio Apostolica Sollicitudo do papa Paulo VI, nasceu no contexto da última assembleia ecuménica (1962-1965), no início do quarto período do Concílio, com o objectivo de perpetuar na Igreja o espírito de colegialidade episcopal que se viveu e experimentou ao longo da assembleia conciliar.
Poucos meses antes da conclusão do Concílio Vaticano II, o Sínodo dos Bispos iniciava o seu caminho. Este novo organismo recebia o testemunho da grande assembleia ecuménica e traduzia assim de modo concreto e institucional o desejo de um caminho conjunto que a Igreja deve percorrer para que possa ser cada vez mais fi el à sua identidade e missão.
O primeiro Sínodo dos Bispos reuniu em 1967, abordando temas fundamentais para a recepção da doutrina conciliar e para a urgente tarefa renovadora da Igreja, como a preservação e reforço da fé católica, a sua integridade e o seu vigor. Além disso, esta primeira assembleia sinodal pediu a revisão do Código de Direito Canónico de 1917, para que, na disciplina canónica e ordenamento jurídico da Igreja, estivessem presentes os importantes contributos da doutrina conciliar.
Como afirmou o papa Paulo VI na oração do Angelus de 1 de Outubro de 1967, no dia seguinte à abertura da I Assembleia Geral Ordinária, «este Sínodo é uma instituição nova na Igreja, e expressa os interesses espirituais de todo o Povo cristão. Devemos fazer votos que ele seja, como a Igreja da qual é órgão representativo e operativo, um sinal no meio da humanidade de hoje. (…) Ele é um sinal da presença de Cristo entre nós, porque está destinado a manter acesa e esplendorosa a fé, oferecendo luz nas trevas do nosso tempo».
Ao longo destes cinquenta e três anos, realizaram-se vinte e sete Assembleias Sinodais: catorze Assembleias Gerais Ordinárias, três Assembleias Gerais Extraordinárias e dez Assembleias Especiais. As catorze Assembleias Gerais Ordinárias ocuparam-se da preservação e reforço da fé católica, do sacerdócio ministerial e da formação dos presbíteros nas circunstâncias actuais, da justiça no mundo, da evangelização e da catequese no mundo contemporâneo, da Penitência e Reconciliação, da vocação e missão dos leigos, da vida consagrada e do ministério pastoral dos Bispos, da Eucaristia e da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, da nova evangelização e por duas vezes da família.
As três Assembleias Gerais Extraordinárias trataram da cooperação entre a Santa Sé e as Conferências Episcopais, do vigésimo aniversário do Sínodo dos Bispos e da família. As dez Assembleias Especiais, pela sua natureza, referem-se a uma ou mais áreas geográficas: os Países Baixos, a Europa e a África duas vezes, o Líbano, a América, a Ásia, a Oceânia e o Médio Oriente.
Deste modo, ao longo de mais de meio século, o Sínodo tocou os mais diversos temas acerca da missão evangelizadora da Igreja no nosso tempo. As várias assembleias sinodais, numa visão conjunta, traduzem as etapas de um caminho coerente e unitário e constituem-se como um instrumento privilegiado para a actuação e recepção do Concílio Vaticano II, no horizonte da renovação pastoral da Igreja e no seu diálogo com o mundo contemporâneo. É de particular relevância que das vinte e sete Assembleias Sinodais, três se tenham dedicado ao tema da família. Na verdade, a família é um lugar privilegiado de evangelização e missão e como comunidade humana fundamental e insubstituível deve ter na refl exão e na missão da Igreja um lugar privilegiado.
Na comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, o Papa Francisco numa profunda e belíssima intervenção sobre o Sínodo dos Bispos e o caminho sinodal que a Igreja é chamada a percorrer, agradeceu a Deus o dom do caminho percorrido ao longo destes 50 anos e recordou que o Sínodo dos Bispos traduz a «beleza de caminhar juntos» e expressa a identidade da Igreja, da qual a sinodalidade é dimensão constitutiva.
Na verdade, neste discurso, o papa não se limitou a palavras de circunstância, recordando o percurso histórico do Sínodo dos Bispos ou simples agradecimentos aos protagonistas deste itinerário sinodal, mas proferiu uma densa e articulada reflexão sobre duas temáticas que sendo essencialmente distintas se encontram em estreita ligação: a dimensão sinodal da Igreja e o papel específico do Sínodo dos Bispos.
Para o Papa, o Sínodo dos Bispos é «um dos legados mais preciosos da última sessão conciliar». Por isso, reafirmando a necessidade de viver e caminhar na senda da sinodalidade, o papa numa carta enviada ao secretário-geral do sínodo dos bispos por ocasião da elevação à dignidade episcopal do subsecretário afirma o «desejo valorizar esta preciosa herança conciliar», que tem a missão de confirmar na unidade e se constitui como um colégio que exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus, fazendo presente no trabalho sinodal a comunhão e a universalidade que são notas características da identidade da própria Igreja.
Deste modo, o Sínodo dos Bispos é uma preciosa expressão da colegialidade episcopal, que guiada e conduzida pelo Espírito Santo, se torna um lugar fundamental de diálogo e colaboração dos bispos entre si e do colégio episcopal com o bispo de Roma. Por isso, desejamos que esta XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, reflectindo sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional, depois de ter ouvido os jovens do mundo inteiro, sinta o «odor» das suas ânsias e desejos e saibam propor, com credibilidade e entusiasmo, o Evangelho da Juventude que anuncia a beleza do amor de Deus que chama e convoca a todos para a missão.
* sacerdote a estudar em Roma Teologia Pastoral na Pontifícia Universidade Lateranense. É responsável pela coordenação da página de Liturgia da “Voz Portucalense”